Gestão

Mutação no sistema de gestão em Saúde

Por Roberta Massa | 10.09.2015 | Sem comentários

Eu tinha apenas um ano quando o físico austríaco Fritjof Capra escreveu o livro “O Ponto de Mutação”, em 1982. O livro aborda um dialogo de três pessoas que embora tenham estilos de vida e pensamentos diferentes, são abertas a novas perspectivas. O diálogo dos personagens acontece em um castelo medieval na França.

Essas pessoas são americanas e fazem parte de núcleos sociais diferentes. O primeiro ator é um senador e ex-candidato à presidência da republica dos EUA. Ele se sente desmotivado com a política, argumentando não ter discurso próprio, tendo que repetir os discursos que seus assessores escrevem pautado no que as pessoas querem ouvir. O segundo é um professor de literatura e escritor, que se sente na crise de meia idade. Ele veio para a França para fugir da competitividade das grandes cidades. A terceira é uma cientista especialista em Física que vive uma crise existencial ao ver a intenção do uso militar em sua pesquisa no auxílio de melhorar a vida dos indivíduos.

Em meio a estas crises de percepções dos personagens, o autor compara o pensamento cartesiano ao nosso paradigma atual, onde a visão fragmentada que nos facilitou entender muita coisa até então já não dá conta dos desafios que temos hoje como sociedade. A leitura desses fragmentos são reducionistas e tecnicistas, separa o todo em partes e entende cada um deles acreditando que esse processo leva ao entendimento do todo. Porém as transformações que precisamos induzir nos endereçam a quebrar nossos paradigmas e pensar de forma sistêmica, integral, que tem como premissa enxergar o todo como algo indissociável.  Ele nos ajuda a criar a imagem desses fatos, com alguns exemplos em nossas ciências, como biologia, psicologia e economia.

Será que a orientação do setor da saúde tem um viés sistêmico?

Quando um indivíduo vai até um hospital com desconforto e pressão alta para ser atendido no Pronto Socorro e consequentemente é atendido e medicado ele vai embora satisfeito, pois está sem dor. Mas, esse processo impacta no contexto integral do indivíduo, ou apenas uma parte dele? O famoso “apaga o incêndio”, comum na gestão de vários negócios no Brasil.

Segundo Relatório da PWC – PriceWaterhouseCoopers – acerca do setor, emitido em 2005, os gastos da saúde irão representar 21% do PIB nos EUA e 16% do PIB nos outros países da OCDE até 2020, onde a maior concentração de gastos  será com doenças crônicas. Em outros termos mais simples, seria como dizer que gastaremos mais em tecnologia para produzir corações artificiais do que promover a prevenção de pacientes crônicos, que poderiam ser diminuídas, ou até mesmo evitadas a partir de novos hábitos alimentares, exercícios físicos regulares. O tabagismo também é um fator muito influente nos pacientes crônicos.

Vamos refletir: O que é mais barato? Onde poderíamos reinvestir esse dinheiro?

O pensamento fragmentado acaba nos levando a ter um raciocínio que não encoraja a prevenção e sim a intervenção, mas essa conta não fecha mais. O sistema de saúde não aguentará o aumento dessas despesas, com o modelo de financiamento que temos. Como diria a minha querida Elis Regina “O passado é uma roupa que não nos cabe mais”.

O mundo muda mais rápido que a percepção das pessoas, é um grande desafio principalmente da área da saúde, informar, permitir que os indivíduos sejam mais responsabilizados das consequências de seus hábitos.

Precisamos enxergar a saúde com uma nova visão, ajudar a reunir todos os atores para um diálogo e tratar de medidas estruturantes para nosso sistema ser mais sustentável.

Muitos ao ler meu artigo dirão: “Tá, na teoria é lindo, mas e a pressão que sofrerei com a indústria farmacêutica nesse contexto de utilizar menos medicamentos, com a do Tabaco com a reeducação para mitigação, ou com os outros elos da saúde que hoje sobrevivem da doença? E até mesmo com outras áreas que interagem para esse complexo nó, como a alimentício e seus produtos extremamente industrializados que ajudam na aceleração de algumas doenças, tal qual o excesso de agrotóxicos nos alimentos in natura etc. e tal. ?”

Esse caminho inevitavelmente terá de ser percorrido por nós, colocando as dificuldades embaixo do braço, assumindo riscos e responsabilidades, discutindo em torno do eixo critico e considerando tudo o que permeia, inclusive a corrupção que tenta nos cegar todos os dias.

A sustentabilidade do sistema de saúde não é pautada apenas em crescimento econômico em si, mas também com a ampliação da rede da vida, a qual a sua própria sobrevivência depende.

A proposta aqui é perceber que o início do ponto de mutação é agora!

*Roberta Valença/CEO – Arator

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