Gestão

Para ex-chefe da Santa Casa, ninguém queria imóvel vendido a funcionário

Por Roberta Massa | 16.01.2016 | Sem comentários

O ex-provedor da Santa Casa de São Paulo Kalil Rocha Abdalla disse que os imóveis vendidos a funcionários do próprio hospital eram bens que não interessavam ao mercado imobiliário. “Ninguém queria”, afirmou.

Ainda segundo ele, tais vendas ocorreram a preços justos – dadas as condições e características das propriedades – e que as transações foram aprovadas pela mesa administrativa que participa da gestão do hospital. “Está tudo documentado. A mesa aprovou. O [José Luiz] Setúbal fazia parte da mesa e ele também aprovou, provavelmente.

Quando era proposta de venda, dizia-se o que seria vendido, o quanto, e autorizava o preço”, disse ele em referência ao atual provedor da Santa Casa.

Conforme a Folha revelou no domingo (10), a venda de imóveis na gestão Kalil é alvo de uma sindicância interna aberta pela atual gestão. Ao menos dez imóveis são alvo dessa apuração.

São imóveis doados ao hospital por beneméritos, mas vendidos a funcionários da instituição a preços abaixo dos de mercado.

Entre os servidores que compraram imóveis estão um gerente ligado aos imóveis da Santa Casa e a gerente da Procuradoria Jurídica, que, entre outras funções, analisa essas transações.

O ex-provedor havia sido procurado antes, mas ele não quis atender à reportagem. Procurado novamente, decidiu falar. “Eu não sabia do que se tratava”, disse sobre não atender a Folha antes.

Entre os imóveis investigados na sindicância estão três quitinetes no litoral paulista, em frente à praia, vendidas à então gestora da radiologia em lote por R$ 10.200 –R$ 3.400 cada.

O lote foi doado por um homem que morreu em 1984. Sua única exigência era que esses bens não fossem vendidos nem doados.

“O imóvel foi vendido por R$ 10.200, mas tinha mais R$ 35 mil de impostos a pagar. Não vale nada. Aquilo lá é péssimo”, disse.

Somados aos impostos devidos citados pelo ex-provedor, cada apartamento, estimado em R$ 80 mil, ficaria em torno de R$ 15 mil.

Sobre os outros imóveis, ele disse que havia questões parecidas. “Na Teodoro Sampaio [apartamento vendido a gerente] a venda era de parte do apartamento. Ninguém queria comprar”, disse.

Kalil disse que pode esclarecer todas as dúvidas que estão sendo investigadas. “É uma sindicância que não conheço. Que não fui convidado para dar esclarecimento”, disse. “A Santa Casa está de portas fechadas para mim.”

Folha de São Paulo – 16.01.2016

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