Gestão

Laboratórios e hospitais ampliam suas estruturas para casos de zika

Por Roberta Massa | 13.02.2016 | Sem comentários

Diante do aumento crescente de casos de zika vírus, laboratórios estão investindo em exames com diagnóstico mais precisos e os hospitais contratando médicos e enfermeiros para atender a demanda.

Já as operadoras de planos de saúde estão sendo orientadas para cobrir os testes de zika vírus – atualmente, os convênios médicos são obrigados a pagar somente os exames para dengue.

Como os impactos sociais e econômicos do zika ainda são desconhecidos, a comunidade médica e o setor de saúde estão se baseando no histórico de dengue – cujo transmissor também é o mosquito Aedes aegypti. No ano passado, os gastos com internações em hospitais privados e públicos de pacientes acometidos pela dengue ultrapassaram a casa dos R$ 110 milhões, o que representa o dobro do ano anterior, segundo levantamento feito pela Abramge, associação das operadoras de planos de saúde.

Neste ano, as cifras devem ser ainda maiores por conta do zika vírus e da chikungunya e também porque há duas novas medidas ampliando o atendimento para dengue. Entre elas, os convênios médicos são obrigados a cobrir o teste de dengue. “Vai haver um aumento expressivo no número de pedidos de testes de dengue”, diz Irlau Machado, presidente da Intermédica, terceira maior operadora de plano de saúde. “Se a rápida proliferação de dengue e chikungunya for a mesma para o zika, o impacto sobre as condições de saúde dos beneficiários e despesas assistenciais pode ser significativo já em 2016”, pontua a Abramge.

Apesar da previsão de aumento nos custos, a associação está recomendado às operadoras de planos de saúde a cobrir o teste para zika vírus – exame que ainda não são obrigadas a pagar. “É melhor fazer o teste e, se for o caso, já começar o tratamento.

O custo de um tratamento no início da doença é menor”, diz Pedro Ramos, diretor da Abramge.

O valor de um exame molecular de zika vírus varia de R$ 400 a R$ 450 no Hermes Pardini, que tem 112 unidades próprias e presta serviços para 5 mil laboratórios no país.

Os hospitais estão investindo numa estrutura maior de atendimento diante da expectativa do aumento na demanda e também porque o tempo de permanência de pacientes com dengue no hospital aumentou de seis para 12 horas. “Temos uma área física separada e médicos dedicados aos casos de suspeita de dengue, zika e chikungunya.

A estimativa é que os casos de dengue dobrem neste ano, com pico entre março e abril”, disse Ícaro Boszczowski, infectologista do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, em São Paulo. Neste ano, foram realizados no Oswaldo Cruz, 66 exames para dengue, sendo que 11 tiveram diagnóstico positivo. Houve ainda um caso confirmado de chikungunya e outros dois com com suspeita de zika vírus.

Os laboratórios correm para oferecer exames com diagnóstico preciso e resultados mais rápidos. Até o ano passado, o exame molecular – aquele que detecta o vírus no pico da doença – era enviado para Espanha ou Estados Unidos.

Há cerca de dois meses, laboratórios brasileiros de medicina diagnóstica como Hermes Pardini, Dasa e Fleury estão processando o teste no país. O outro exame de sorologia para zika (que busca pelo anticorpo) ainda é processado fora do Brasil. O mineiro Pardini investiu cerca de R$ 50 mil em aquisição de insumos para produção do exame molecular. “Em 2015, eram realizados 20 exames de zika por mês fora do país ao custo de R$ 1,2 mil. Agora, são de 20 a 30 testes por dia e o processamento é feito internamente.

Nos próximos dois meses vamos reduzir em 20% ou 30% o preço do exame”, disse Alessandro Ferreira, diretor comercial corporativo do Hermes Pardini.

A Dasa – dona de bandeiras como Delboni Auriemo, Lavoisier e Sergio Franco – internalizou a tecnologia do exame molecular do zika em janeiro e desde então já realizou 120 testes. Deste total, 15% deram positivo, sendo quase todos no Nordeste. “Fizemos uma parceria com o Instituto de Ciências Biomédicas da USP e nossa expectativa é realizar 200 testes por mês somente em São Paulo”, disse Octávio Fernandes, vice-presidente de operações da Dasa, maior empresa de medicina diagnóstica do país.

Vale pontuar que, atualmente, existem dois tipos de exames para detecção do zika, sendo que cada um deles têm alguns fatores limitantes. Um deles é o teste molecular que já é feito por laboratórios nacionais e tem um diagnóstico preciso porque detecta o vírus da doença. Porém, esse exame só tem eficácia se realizado no período de pico (febre alta) da doença, que normalmente dura cerca de três dias.

Após esse prazo, há o exame de sorologia que busca o anticorpo (a proteína de defesa do vírus), mas seu diagnóstico ainda não é totalmente preciso, podendo haver casos de falso negativo, e seu processamento é feito somente em laboratórios fora do país. “Após o período de pico, a quantidade do vírus cai e começa a produção de anticorpos. Se for detectada essa proteína de defesa do vírus, é possível fazer uma inferência de que o zika vírus esteve presente no organismo da pessoa”, explica o infectologista do Oswaldo Cruz.

O diagnóstico do exame de sorologia de zika ainda não é totalmente preciso porque seu anticorpo se assemelha ao da dengue e da chikungunya e também porque o universo pesquisado de zika ainda é pequeno. Uma das características mais marcantes do mosquito Aedes aegypti é a sua capacidade de reproduzir novos vírus.

No caso da dengue, por exemplo, já há quatro tipos. Essa “evolução” é uma das razões para as oscilações do número de casos de dengue, cujo ciclo é marcado por um ano com aumento e o seguinte com queda.

Quando há uma explosão de casos, são introduzidas medidas de contenção, mas com o surgimento de novos tipos de vírus, o número de ocorrências volta a subir.

Fonte: Valor Econômico – 13.02.206

 

 

 

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