Cirurgia plástica reparadora cresce mais que a estética no Brasil
Por Roberta Massa | 13.04.2016 | Sem comentáriosCirurgias plásticas reparadoras –feitas para corrigir deformações congênitas ou adquiridas após uma doença ou acidente– crescem mais do que as estéticas no Brasil, segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP).
Em 2009, foram realizadas 629 mil cirurgias plásticas no país, sendo 170 mil reparadoras (27% do total). Cinco anos depois, as reparadoras já representavam 40% dos 1,23 milhão de plásticas de 2013.
A pesquisa foi feita com levantamento de dados de 500 médicos da SBCP (de um universo de 5.800 cirurgiões plásticos no país) entre 2009 e 2014. Os dados foram consolidados em 2016.
Segundo a entidade, o que impulsionou o aumento das cirurgias reparadoras foram os casos de câncer de pele –o mais comum dos cânceres– e de cirurgias de redução de estômago e também de reconstrução mamária em decorrência de tumores.
“Após uma perda de peso acentuada, o paciente pode precisar de até cinco plásticas para retirada do excesso de pele da barriga, coxa, braços, mamas e rosto”, diz o presidente da SBCP, Luis Henrique Ishida.
Em 2010, o Supremo determinou que a retirada de pele era parte do tratamento da obesidade e devia ser coberto pelos planos. “Com pele sobrando, o paciente tem dificuldade até de se movimentar, é uma das plásticas corretivas menos estéticas que existem”, diz o médico.
Somente as cirurgias de redução do excesso de pele por conta de emagrecimentos cresceram cinco vezes. Já as reconstruções mamárias cresceram quatro.
CÂNCER
No caso das cirurgias de mama e de câncer de pele, o que cresceu não foi apenas o número de ocorrências da doença, mas a demanda por um procedimento plástico após a retirada dos tumores. Antes, mais pessoas faziam apenas o procedimento de saúde sem recorrer a uma plástica corretiva depois.
Já no caso das cirurcgias bariátricas, o que aumentou de fato foi o número de procedimentos com a popularização da técnica e acesso pelos planos de saúde.
Cânceres de pele mais agressivos costumam ser tratados em conjunto com um dermatologista. Primeiro, o dermatologista faz a retirada do tumor. Em seguida, o cirurgião plástico cuida para que a cicatriz seja o mais discreta possível.
“Deixar uma cicatriz é quase inevitável nesses casos, mas podemos planejá-la para que fique por cima de uma linha de expressão que a pessoa já tem ou na mesma direção da linha. Uma cicatriz no sentido contrário ao das linhas de expressão do rosto fica muito mais evidente”, explica Ishida.
Quando o tumor retirado é grande, pode ser necessário fazer uso de excertos de pele retirados de outras partes do corpo. Em alguns casos, é possível expandir a pele local usando uma bexiga de silicone por baixo da epiderme. Conforme a bexiga infla, o tecido elastece e a sobra pode ser usada para tampar a lesão cancerosa.
Outros motivos que levam as pessoas a buscarem plásticas corretivas são acidentes (sobretudo domésticos e de trânsito) e defeitos congênitos como lábio leporino e malformações faciais.
O aumento das reparativas puxou ainda uma subida da participação dos convênios médicos e do sistema público de saúde no financiamento desse tipo de intervenção. Se em 2009 somente 16,9% dos procedimentos eram pagos por convênio ou pelo SUS, em 2014 esse número passou para 19,5%.
Outra explicação para o ganho de espaço das cirurgias reparadoras é que o mercado de plásticas estéticas, que foi alavancado no começo dos anos 2000, pode ter atingido um platô de crescimento, de acordo com Ishida.
“Com a crise, a perspectiva é que as cirurgias reparadoras assumam um percentual ainda mais expressivo do número total de plásticas uma vez que não precisam ser pagas diretamente pelo paciente”, avalia o cirurgião
Fonte: Folha de São Paulo-13.04.2016