Opinião

Como andar no pântano sem se sujar

Por Roberta Massa | 15.04.2016 | Sem comentários

Mesmo que você seja o único em meio a um ambiente de corrupção, como os já conhecidos casos de falta de ética, mantenha-se no caminho correto. As instituições vão mudar para ampará-lo.

Participo de vários eventos do mercado privado de saúde e, nos últimos tempos, tenho sido surpreendido pelos participantes, que inevitavelmente questionam: “como ser honesto e correto em um ambiente onde existem desvios de conduta? E, se eu não entrar na onda, acabo até prejudicando o hospital?”

Nos acostumamos com essa conduta por causa do conceito míope do setor. Com esta postura, vivemos desde os tempos do jurista baiano Ruy Barbosa, famoso pelo discurso no Senado em que diz: “de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto”.

O fato é que as pessoas não se sentem amparadas ao serem honestas, não há um aparato legal e apoio da sociedade que garanta sempre a punição para quem sair dos trilhos.

Mesmo conhecendo todas as dificuldades atuais, compartilho o que aprendi na vida: num pântano, é preciso saber andar em cima das pedras, vestindo roupa branca, sem se sujar.

Essa força interna de cada um para escolher o que é certo, independentemente do ambiente em que se está inserido, é o mais importante, mas é óbvio que isso não basta.

As instituições devem implementar sistemas que auxiliem na identificação e, também, ter políticas claras, que desestimulem as ocorrências, além de um plano de ação ostensivo para antecipar situações de risco, corrigir e, principalmente, punir os desvios.

Precisamos criar um ambiente em que as pessoas se sintam observadas e avaliadas, onde tudo possa ser medido, não só a produtividade, mas também a qualidade da assistência, o que cada profissional faz e a implementação de mecanismos focados nos códigos de ética, entre outros itens.

As práticas ilícitas tem sido as responsáveis pela crise política-econômica do País. O momento político vivido hoje também contribui para que o debate sobre ética e corrupção esteja mais presente no meio empresarial.

O tema não é mais tabu e as instituições estão percebendo a necessidade de estabelecer relações comerciais e profissionais mais éticas, pois só assim será possível melhorar a eficiência e a equidade do sistema de saúde.

Vai dar certo? Alguma coisa vai mudar?

Tenho certeza de que a resposta para estas duas perguntas é sim, já estamos mudando. Pode ser que demore cinco, dez, vinte anos, mas o que me faz otimista, é que felizmente há mais profissionais honestos, com vontade de contribuir para uma saúde e um País melhores, do que profissionais corrompidos pelo sistema.

Autor: Francisco Balestrin(*) Presidente do Conselho de Administração da Anahp (Associação Nacional de Hospitais Privados) e Presidente eleito da Associação Mundial de Hospitais (IHF).

Fonte: WN&P Comunicação-15.04.2016

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