Hospital de Câncer de Barretos ameaça fechar unidade do interior paulista
Por Roberta Massa | 02.06.2016 | Sem comentáriosReferência nacional no tratamento da doença, o Hospital de Câncer de Barretos ameaça fechar sua unidade em Fernandópolis (a 555 km de São Paulo) e afirma que há atraso no repasse de R$ 30 milhões do governo Geraldo Alckmin (PSDB).
Em comunicado feito na manhã desta quarta-feira (1º), o gestor do hospital, Henrique Prata, disse que a unidade será fechada em 30 dias caso os recursos não cheguem ao hospital.
Questionado, o governo de São Paulo afirma, por meio da Secretaria do Estado da Saúde, que não há atraso de repasses à fundação responsável pelo Hospital de Câncer de Barretos.
A Folha procurou novamente a instituição, após receber o posicionamento do governo, mas não houve resposta.
Maior instituição oncológica do país, o Hospital de Câncer de Barretos tem atualmente oito unidades no país –incluindo os hospitais de Fernandópolis e Jales.
Para ter atendimento na sede, pacientes viajam até 3.000 km –incluindo de regiões como Norte e Nordeste do país.
Caso o Instituto de Prevenção Júlia Marzola Faria, em Fernandópolis, seja fechado, os pacientes vão precisar ser remanejados para a unidade de Jales, na região de Araçatuba, que faz cerca de mil atendimentos diários, todos via SUS (Sistema Único de Saúde).
Apesar da alternativa, Prata disse que a unidade de Jales também tem dívidas a receber e corre o risco de ser desativada até o fim do ano. Os problemas ocorrem, principalmente, porque o hospital faz quase 100% dos atendimentos por meio do SUS, o que obriga a instituição a buscar verbas extras todos os meses –como cachês doados por artistas em shows exclusivos e leilões de gado nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Segundo o gestor, o anúncio da possível desativação da unidade foi feito após análise dos gastos dos serviços prestados para as mais de 95 cidades que a unidade atende.
Inaugurado em 2013, o instituto de Fernandópolis realiza exames preventivos de câncer de colo de útero, de pele, de próstata e de boca. São no total mais de 3.000 atendimentos por mês na unidade.
Com 3.000 metros quadrados de área construída, a unidade tem inclusive um centro cirúrgico para pequenas operações e biopsias. Possui estrutura que comporta 50 mamografias e 40 ultrassons por dia, além de 20 biopsias semanais.
O instituto de Fernandópolis atua em conjunto com uma das unidades móveis do hospital, que atende a região da DRS (Departamento Regional de Saúde) 15.
Secretaria de Saúde
Procurada, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado da Saúde informou, em nota no começo da noite, que a fundação gestora do Hospital de Câncer de Barretos recebeu desde janeiro de 2013 cerca de R$ 700 milhões referentes aos atendimentos em suas unidades, incluindo a de Fernandópolis.
“Anualmente a União deixa de enviar ao Estado de São Paulo R$ 1 bilhão referente a tratamentos de média e alta complexidade realizados na rede pública de saúde. Esse valor poderia ajudar instituições como as mantidas pela Fundação Pio XII”.
Ainda segundo a pasta, do total de R$ 700 milhões que a fundação recebeu, “R$ 178 milhões foram repassados pela pasta estadual de forma voluntária para ajudar a cobrir o subfinanciamento federal na área da saúde”
A assessoria classificou as declarações do presidente da fundação como “inverídicas”, informou que até o final deste ano serão repassados outros R$ 36,5 milhões e que não há qualquer dívida com a entidade. A nota da secretaria diz ainda que “causa no mínimo espanto” que a denúncia seja sobre “algo que não é obrigação do governo do Estado e sim do Ministério da Saúde: o credenciamento de serviços oncológicos pelo SUS”.
Em nota enviada mais tarde, a pasta disse ainda que “lamenta as declarações inverídicas do presidente da fundação [gestora do hospital, Henrique Prata], uma vez que o governo paulista, mesmo mantendo 93 hospitais próprios, historicamente apoia a instituição filantrópica, repassando voluntariamente recursos extras de auxílio”.
Estrutura
O Hospital de Câncer de Barretos tem hoje unidades espalhadas nas regiões Centro-Oeste, Nordeste e Norte.
Em Porto Velho (RO), por exemplo, há um hospital que, além de ambulatório, atende oncologia clínica e possui um centro cirúrgico para cirurgias pequenas, médias e de alta complexidade. Ela foi fundada para evitar que pacientes com câncer do Estado tivessem de se submeter a uma longa viagem até Barretos. Iniciou as atividades atendendo 1.400 pacientes.
Já a unidade de Juazeiro (BA) funciona nos moldes da de Fernandópolis, com exames preventivos de mama e papanicolau, além de ter uma unidade móvel com mamógrafo para atender pacientes de nove cidades. Em Campo Grande (MS) também há uma unidade de prevenção, construída com recursos doados por um empresário da região numa área de 2.000 metros quadrados
Fonte: Folha de São Paulo – 02.06.2016