Greve afeta entrega de insumos de medicina nuclear
Por Roberta Massa | 21.07.2016 | Sem comentáriosFuncionários de instituto que produz radiofármacos usados no diagnóstico de câncer estão parados; 340 exames foram cancelados.
Responsável pela produção de 95% dos radiofármacos usados nos hospitais e clínicas do País, o Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares (Ipen) suspendeu parcialmente a entrega desses produtos após funcionários do órgão decretarem greve, na última segunda-feira. Cerca de 340 exames ou procedimentos que usam esse tipo de insumo, a maioria para diagnóstico ou monitoramento de câncer, foram cancelados ou adiados.
O Ipen está localizado dentro da Universidade de São Paulo (USP) e é vinculado ao governo do Estado, mas gerido e financiado pela Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN), do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC).
Segundo o superintendente do instituto, José Carlos Bressiani, a paralisação teve como motivo um erro no projeto de lei que definia os reajustes salariais e demais regras de remuneração de servidores públicos. No texto, aprovado pelo Senado na semana passada, não foi incluído o reajuste e as gratificações para as carreiras de técnico e auxiliar técnico do Ipen.
“Temos cerca de 300 técnicos e parte deles está na área de produção, onde a maioria dos funcionários aderiu à paralisação. Estamos tentando honrar a entrega dos produtos convocando funcionários em férias ou servidores de outros setores, mas estamos tendo alguns atrasos”, diz Bressiani.
Sem a inclusão da previsão das gratificações no projeto de lei, os funcionários do Ipen teriam uma redução de cerca de 30% em suas remunerações, porcentual do salário correspondente a esse benefício.
Prejudicados. De acordo com o superintendente, uma das áreas mais prejudicadas pela greve foi a de produção do radiofármaco flúor-18, necessário para a realização do exame PET-CT, procedimento que faz um rastreamento completo do corpo do paciente com o objetivo de investigar o tamanho e o estágio de tumores, além de possíveis metástases.
Seis hospitais que haviam feito encomendas do insumo para a realização do exame na terça-feira, 19, só receberam o material nesta quarta, 20. Pelo menos 37 exames tiveram de ser cancelados por causa do atraso.
De acordo com Bressiani, entre as unidades de saúde prejudicadas estão o A.C. Camargo Cancer Center, o Hospital Estadual de Heliópolis, ambos na capital, o Hospital da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e o Hospital Amaral Carvalho, em Jaú. O atraso na produção de iodo e gálio-68 podem ter cancelado ou atrasado outros 300 exames.
A principal dificuldade de substituição do fornecedor desses produtos é que quase a totalidade da produção no País é feita pelo Ipen, sem possibilidade de importação dos itens, pois os radiofármacos perdem eficácia rapidamente, tendo de ser utilizados poucas horas após a produção.
A suspensão do fornecimento do gálio-68 impediu que a gerente Luciana Souza, de 34 anos, passasse por um PET-CT nesta quarta-feira, 20, no Hospital Sírio-Libanês, outra unidade que confirmou ter cancelado exames por causa da greve do Ipen. No caso de Luciana, o resultado do teste é fundamental para a realização da cirurgia de retirada de um tumor, agendada para o próximo sábado. “Sem passar pelo exame, não posso fazer a operação. É uma angústia”, diz ela.
O superintendente do Ipen diz que a força-tarefa com servidores que não aderiram à greve continuará, mas que o fornecimento só deverá ser normalizado após o fim da paralisação. Na manhã desta quinta-feira, 21, os funcionários do Ipen deverão fazer uma nova assembleia para decidir se mantêm a greve.
Procurado, o Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações informou que detectou a ausência dos cargos de técnico e auxiliar técnico do Ipen no Projeto de Lei 33/2016 e que já solicitou ao Ministério do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão “a correção da matéria”, para que não haja prejuízo aos servidores.
“Além disso, o MCTIC mantém diálogo com a categoria para solucionar o problema o quanto antes”, informou o órgão, em nota.
Crise. Além de enfrentar a greve dos técnicos, o Ipen passa por uma crise orçamentária que poderá levar à suspensão completa das atividades. Conforme revelou o Estado no início do mês, o instituto só tem dinheiro para operar até o fim de agosto, de acordo com Bressiani. O orçamento do Ipen para 2016 é de aproximadamente R$ 100 milhões, R$ 50 milhões a menos do que o necessário. Cerca de 6 mil pessoas usam os produtos fabricados pelo órgão diariamente.
Fonte: Folha de São Paulo-21.07.2016.
Ebook Planejamento Estratégico na Área da Saúde, baixe agora por apenas R$9,90.