Auditorias revelam crise no atendimento do SUS em 14 capitais
Por Roberta Massa | 27.09.2016 | Sem comentáriosMil pessoas à espera de cirurgia e vagas disponíveis ociosas são alguns dos problemas.
Pelo menos metade das capitais do país enfrenta irregularidades na regulação de vagas para consultas, exames e cirurgias no Sistema Único de Saúde (SUS).
Levantamento do GLOBO nas inspeções feitas nas capitais desde 2015 pelo Denasus, órgão de auditoria do SUS, mostra problemas em 14.
Há casos de mais de mil pessoas aguardando por cirurgia; espera de mais de nove meses por atendimento; e hospital recusando vagas oferecidas por outro, apesar de haver mais de dez mil pacientes em fila de espera.
Foi verificada a falta de integração ou comunicação entre unidades de Saúde sobre oferta de leitos e agendamento de consultas.
Em Manaus, o Denasus verificou que vagas para tratamento de oncologia não estão incluídas na distribuição da Central de Regulação de Alta Complexidade do Amazonas. Assim, “’inexiste um fluxo específico por via do Sisreg (Sistema de Regulação desenvolvido pelo DataSUS) para encaminhamento dos pacientes portadores de neoplasia”.
No hospital Geral Roberto Santos, em Salvador, a falha de ordenação de vagas aparece no próprio registro dos prontuários médicos, que, segundo os auditores, “são incompletos com fluxo incoerente, não gerenciados, comprometendo a prestação da assistência”.
Indicação de leitura: Ebook Lean Six Sigma em Saúde.
As fichas de admissão da emergência não têm “registro completo da assistência prestada ao paciente, assinatura ou dados da alta, sem sequer registros dos sinais vitais, da prescrição médica, sem registro horário e administração das medicações com letras ilegíveis”.
A relação entre falha de integração e tempo de espera aparece em Campo Grande, no atendimento odontológico da rede municipal. “Nenhuma das unidades visitadas realiza controle numérico e/ou nominal dos pacientes”. Não há listas de espera. “Os usuários ficam sujeitos a ter que retornar várias vezes ou a desistirem”.
Há solicitações “pendentes de usuários aguardando desde 2013”.
Mas é em Teresina que falhas de ordenamento de vagas levaram a um quadro caótico. Apesar de uma fila de espera de quase 11 mil pacientes, segundo o Denasus, o “gestor municipal do SUS” sempre agenda menos pacientes para atendimento no ambulatório do que a quantidade de consultas e exames à disposição do SUS pelo hospital.
A média de agendamentos para tomografia computadorizada “só chegou a 46% da oferta do trimestre”, pois “o Hospital Universitário (HU) ofereceu 1.738 exames e só foram agendados 807 pacientes”.
Os auditores destacam que, nas especialidades oferecidas pelo HU em julho, agosto e setembro, o agendamento de pacientes “nunca alcançou 100% da oferta”.
No caso de exames, de 104.220 exames de laboratório clínico ofertados, “só foram agendados 7.986, equivalente a 9% dos ofertados”. Segundo a auditoria do Denasus, “é perversa, ineficaz e insensível a Gestão do Sistema de Marcação de Consultas Médicas Especializadas e de Exames Complementares da Secretaria Municipal de Saúde de Teresina. Enquanto 11 mil pacientes padecem na fila de espera por atendimento, a SMS de Teresina deixa desperdiçar dezenas e dezenas de consultas médicas (…), além de exames”.
Fonte: O Globo-27.09.2016.