Hospital das Clínicas faz 1º transplante no País de útero de doadora que já tinha morrido
Por Roberta Massa | 10.10.2016 | Sem comentáriosTransplante realizado no Hospital das Clínicas é o 3º do mundo; paciente passa bem e poderá tentar engravidar daqui a 1 ano.
Uma paciente de 28 anos do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP).
Foi a primeira mulher da América Latina a ser submetida a um transplante de útero de uma doadora que já tinha morrido.
A cirurgia, já feita nos Estados Unidos e na Turquia, foi realizada no mês passado e a paciente se recupera sem sinais de rejeição do órgão.
O procedimento, fez parte de um projeto de pesquisa da Divisão Clínica de Ginecologia e do grupo de transplante hepático do hospital que teve início há cerca de três anos.
O objetivo é que ele seja direcionado para mulheres que nasceram sem útero e pretendem engravidar.
“O projeto foi aprovado na comissão de ética do hospital e no Conep (Conselho Nacional de Ética e Pesquisa).
As equipes começaram a fazer estudos em cadáveres e, depois, em ovelhas.
Nossa equipe foi para a Suécia, onde existe um centro que faz transplantes de doadoras não falecidas e têm resultados positivos de gravidez nas receptoras.
Então, apareceu a oportunidade de fazer aqui. O nosso caso é o terceiro no mundo”,
Explica Edmund Chada Baracat, professor titular da disciplina de Ginecologia e diretor da Divisão de Ginecologia do Hospital das Clínicas.
Os dois outros procedimentos que foram feitos não tiveram resultados positivos. No caso dos Estados Unidos, o útero precisou ser removido.
Na Turquia, a mulher chegou a engravidar, mas teve um aborto espontâneo.
“A nossa paciente está muito bem, fazendo todos os acompanhamentos e tomando uma medicação específica para evitar rejeição.
Também vamos acompanhar a situação reprodutiva dela.”
A mulher tem a Síndrome de Rokitansky, uma condição rara que faz com que o útero não seja formado.
Também pode causar alterações na vagina, mas não afeta os ovários.
A síndrome costuma ser notada na adolescência, quando a jovem não menstrua, embora tenha um desenvolvimento normal.
Segundo Luiz Augusto Carneiro D’Albuquerque, diretor do Serviço de Transplantes Abdominais do Hospital das Clínicas, o projeto prevê a realização de três cirurgias, inicialmente.
“A cirurgia é complexa. O procedimento durou dez horas. Foram quatro pessoas para fazer a remoção do útero (da doadora), que é colocado em uma solução e, depois, implantado na paciente.
Fazemos a costura das veias para ter a plena drenagem do útero.”
Futuro
Após acompanhamento por um ano, se a paciente não tiver complicações, serão iniciadas as tentativas para que ela engravide.
Antes do transplante, já foi realizada a coleta de óvulos e oito embriões estão congelados.
Baracat explica que esse tipo de transplante pode ser, no futuro, uma opção a mais para as mulheres que nasceram sem útero e têm o sonho de gerar uma criança.
“O transplante de útero tem indicação restrita.
É para mulheres que nasceram sem útero e têm um futuro reprodutivo adequado, como é o caso dessa mulher.
É preciso ter boas condições clínicas e o casal precisa ter embriões adequados para serem implantados depois.
É um procedimento de alto custo e sabemos que o útero não é um órgão vital, como é o caso de um coração ou de um pulmão.”
Fonte: Estadão-10.10.2016.