Radiografia de um hospital em crise
Por Roberta Massa | 26.01.2016 | Sem comentáriosNo dia em que não consegue levar sua própria agulha ao hospital, Jorge Pereira, de 54 anos, sabe que lhe espera um procedimento longo e doloroso.
Jorge convive há quatro anos com os rins e o fígado transplantados e hoje depende de um tratamento semanal para retirar líquidos do seu abdômen. “Os hospitais deixaram de comprar agulhas tão grandes porque são mais caras, mas as pequenas, depois de determinada quantidade de líquido, se dobram e tem que trocar.
Assim acabo furado até cinco vezes”, lamenta na recepção do Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
A crise nos hospitais do Rio chegou a um limite em que os pacientes levam as fraldas e as agulhas de casa.
O Pedro Ernesto, referência em radioterapia e quimioterapia, maternidade de alto risco, cirurgia cardíaca, hemodiálises e transplantes, funciona hoje na precariedade.
O principal problema é que os serviços de limpeza, lavanderia, manutenção, segurança e cozinha deixaram de funcionar regularmente porque os funcionários terceirizados, que ganham pouco mais que um salário mínimo, não recebem há dois meses. Assim, as lâmpadas que quebram não são trocadas, os aparelhos médicos não são consertados, as pias ficam entupidas, os banheiros, sujos e as lixeiras, cheias.
À falta de pagamento do Estado, que reconhece dever 1,4 bilhão ao sistema de saúde e arrasta uma media de atraso nos pagamentos às empresas de até quatro meses, somam-se os atrasos da Prefeitura, denuncia a diretoria do hospital. Ela é responsável por depositar cerca de 20% do orçamento do centro, repassado a ela pelo SUS, e que corresponde aos procedimentos realizados pelo centro. “A justificativa é que os recursos estão sendo destinados às emergências dos hospitais municipais [sobrecarregadas com as dificuldades dos centros estaduais]”, afirma o diretor Edmar Santos, recém empossado.
A Prefeitura, que não informa das datas específicas de quando os repasses devem ser feitos, afirma que os pagamentos estão “dentro do cronograma”.
Fonte: O Globo – 26.01.2016