Técnica cirúrgica “em dois tempos” opera um lado do fígado de cada vez para remoção de tumores
Por Roberta Massa | 13.06.2016 | Sem comentáriosDupla cirurgia corta fluxo de sangue para região atingida por tumores e induz ao crescimento da parte limpa do fígado, permitindo a remoção da metástase e uma vida normal para o paciente
Pesquisadores do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP (HCFMUSP) atestaram a eficiência de uma nova técnica cirúrgica para pacientes com metástases no fígado, em casos de câncer colorretal. Denominada ALPPS, a técnica consiste na divisão do fígado em duas partes, uma com os tumores, na qual é cortado o fluxo de sangue, e a outra, sem tumores, que passa a apresentar grande aumento de tamanho. Com a hipertrofia do parte remanescente do fígado, é possível ressecar todas as lesões e deixar para o paciente um volume hepático compatível com uma vida normal.
A técnica foi criada para o tratamento de pacientes com múltiplas metástases hepáticas de câncer do intestino grosso e reto. “Cerca de 50% dos pacientes com câncer colorretal desenvolvem metástases no fígado. Isso torna necessária a execução de estratégias complexas para a remoção de todos os nódulos preservando ao menos 25% a 30% do parênquima hepático”, relata o médico Paulo Herman, professor da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), que participou da pesquisa.
“Entre estes métodos, podem ser destacados a cirurgia em dois tempos, na qual primeiro se opera um lado do fígado e, após cerca de quatro semanas, o outro lado”, descreve Herman, “a embolização ou ligadura da veia porta que irriga o lado do fígado, que vai se ressecado para proporcionar o aumento de volume do fígado contra-lateral, e a técnica ALPPS”.
ALPPS é a sigla em inglês para “associating liver partition and portal vein ligation for staged hepatectomy” (na tradução para o português, “ligadura da veia porta associada à transecção para hepatectomia em dois estágios”). “O objetivo da técnica é fazer uma ressecção hepática estagiada, em dois tempos, promovendo a rápida hipertrofia do fígado que vai ficar em um curto período de tempo, aponta o médico.
Cirurgias
Na primeira cirurgia são retirados todos os nódulos de um lado do fígado, em geral o esquerdo, é feita uma ligadura do ramo da veia porta, um dos vasos sanguíneos responsáveis pela irrigação do órgão, e o fígado é seccionado (partido em dois). “Depois de sete a 14 dias, ocorre uma intensa hipertrofia do lado do fígado limpo de tumores, permitindo a segunda cirurgia e a retirada do lado do fígado com tumores cujo ramo da veia porta havia sido ligado”, relata Herman.
Ao todo, foram tratados com sucesso dez pacientes com múltiplas metástases hepáticas de câncer colorretal por meio da técnica ALPPS no HCFMUSP e no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp). “Nestes pacientes foram feitas duas cirurgias e, devido à intensa hipertrofia do fígado remanescente, foi possível ressecar todas as lesões, deixando para o paciente um volume hepático compatível com uma vida normal”, destaca o médico.
Após resultados iniciais com altos índices de complicações e mortalidade, publicados na literatura médica, as indicações foram mais bem avaliadas e, atualmente, há uma melhora significativa dos resultados. “O grupo de pesquisa sempre se preocupou em selecionar muito bem os pacientes nos quais seria aplicada a técnica”, afirma Herman.
“Isso levou à ocorrência de poucas complicações e nenhuma morte”
Segundo o médico, a técnica ALPPS já está em uso clínico em vários serviços no mundo e no Brasil. “Atualmente, os serviços aplicam os mesmos critérios de seleção propostos na pesquisa”, ressalta o médico. “Detalhes técnicos vêm sendo modificados com o intuito de melhorar os resultados.” Realizado no Serviço de Cirurgia do Fígado da Disciplina de Cirurgia do Aparelho Digestivo do HCFMUSP e no Icesp, o estudo teve seus primeiros resultados publicados em junho de 2015, no periódico científico Journal of Gastrointestinal Cancer. O artigo é assinado pelos pesquisadores Paulo Herman, Ivan Cecconello – professor responsável pelo serviço – Jaime Krüger, Marcos Vinícius Perini e Fabrício Ferreira Coelho.
Fonte: Portal da USP-13.06.2016