ANS quer que rede Unimed resolva crise no Rio
Por Roberta Massa | 14.10.2016 | Sem comentáriosA Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) já trabalha com a possibilidade de o Sistema Unimed assumir os mais de 800 mil beneficiários da cooperativa carioca.
A agência reguladora confirmou que recomendou a venda da carteira da Unimed-Rio dentro de 30 dias.
Após O GLOBO ter acesso a um comunicado encaminhado a presidentes de cooperativas do grupo pela Federação Unimed do Estado do Rio, que convocou uma reunião para esta sexta-feira.
Oficialmente, a ANS não confirma a estratégia de buscar uma solução dentro do sistema de cooperativas para o problema do Rio de Janeiro.
Segundo pessoas próximas ao plano de recuperação da Unimed-Rio, o objetivo é garantir o atendimento, independentemente do equacionamento das contas da operadora carioca.
Médicos recebem 30%
As dificuldades de caixa da cooperativa levaram a Unimed-Rio a não pagar integralmente os valores devidos proporcionais à produção dos médicos, como consultas e exames.
Em documento ao qual O GLOBO teve acesso, os cooperados foram informados que receberão, na próxima segunda-feira, 30% do valor devido.
O restante, ratifica a operadora, será pago, com os respectivos descontos, em data ainda a ser definida.
Em nota, a empresa informa que o ajuste “se deve a uma necessidade de adequação ao fluxo de caixa”.
Uma reunião na agência com a presença de representantes da cooperativa carioca, do Sistema Unimed, dos Ministérios Públicos (MPs) estadual e federal, da Defensoria Pública do Estado e de toda a rede credenciada da operadora.
O objetivo é firmar um acordo que garanta a manutenção de atendimento por 90 dias.
Se a negociação for fechada, o prazo de alienação da carteira pode ser revisado, pois se trata, por ora, de uma recomendação, explica uma fonte.
— A Unimed-Rio não cumpriu os prazos previstos para a entrega de proposta para viabilizar a empresa.
E houve um aumento das reclamações em relação a atendimento em praças fora do Rio.
A saída foi recomendar a alienação da carteira, tentando uma solução interna ao sistema para garantir a assistência das mais de 800 mil vidas.
Esclarece uma fonte que acompanha as negociações, afirmando que o sistema já teria sinalizado positivamente caso haja necessidade de absorver a carteira de clientes.
A Unimed-Rio ressalta que “o ofício encaminhado pela ANS não representa uma determinação.
Mas sim uma recomendação feita antes da entrega de uma nova versão do Programa de Saneamento”.
O plano, protocolado na segunda-feira, no órgão regulador, apresenta novas medidas econômico-financeiras para tirar a empresa — que tem passivo de R$ 1, 9 bilhão — da crise.
O comando da empresa afirma que cumpriu todos os prazos da reguladora e que atrasos teriam ocorrido na gestão anterior.
As negociações em torno da recuperação parecem estar chegando a um ponto decisivo, o que aumentou a cautela entre os envolvidos.
O grupo formado por MPs, Defensoria e Procons, por exemplo, preferiu não se pronunciar até a reunião de segunda-feira.
Os próprios entes do Sistema Unimed foram evasivos em suas resposta ao GLOBO.
A Unimed Federação-Rio, que reúne as 20 cooperativas da rede no estado, e que enviou a cooperados o documento sobre a alienação da carteira ao qual a reportagem teve acesso.
Limitou-se a declarar que está em busca de soluções junto ao Sistema Unimed para manter o atendimento aos clientes da operadora carioca.
A Unimed Brasil também informou, por meio de nota, que “apoia a Unimed-Rio para que esta cooperativa continue prestando seus serviços à comunidade; e confie que os eventuais desafios serão superados”.
O posicionamento foi acompanhado pela Central Nacional Unimed (CNU).
A Unimed Leste Fluminense (Niterói, São Gonçalo, Itaboraí, Rio Bonito, Maricá, Tanguá e Silva Jardim) confirmou o atendimento a clientes da Unimed-Rio.
Conforme acordo firmado entre as duas cooperativas e o Ministério Público de Niterói no fim de agosto.
R$ 14 milhões de voluntários
Apesar do agravamento da crise, com a negativa de aporte de R$ 500 milhões pelos cooperados, em assembleia realizada no fim do mês passado, a coordenadora do Núcleo de Defesa do Consumidor (Nudecon), da Defensoria Pública do Estado, Patrícia Cardoso Tavares, em entrevista à “Defesa do Consumidor” do GLOBO.
No último dia 3, disse não recomendar que os beneficiários da Unimed-Rio deixem o plano de saúde.
Ela lembrou que “em caso de liquidação extrajudicial, o usuário está protegido pela portabilidade extraordinária”.
A diretoria da cooperativa informou ainda que, uma semana após o lançamento do Programa Voluntário para o pagamento de tributos devidos pelos 5.400 cooperados.
Recebeu R$ 14 milhões de cerca de 400 médicos e outros 400 demonstraram interesse em participar.
Fonte: ANAHP-14/10/2016.