Unimed-Rio busca saída para crise em reunião hoje
Por Roberta Massa | 17.10.2016 | Sem comentáriosA Unimed-Rio realizou hoje mais uma reunião com representantes da Agência Nacional de Saúde Suplementar, sistema Unimed, Ministério Público e prestadores de serviços.
Com o objetivo de assinar um termo de ajustamento de conduta (TAC) que ajude a solucionar a crise na operadora.
Encontrar uma saída não será fácil.
Após os médicos cooperados terem recusado fazer um aporte de R$ 500 milhões no mês passado.
A nova diretoria da Unimed-Rio alega que o impasse financeiro pode ser solucionado com a venda do hospital e da sede.
Ambos avaliados em R$ 750 milhões e R$ 170 milhões, respectivamente, pelos cálculos da cooperativa médica.
Os ativos imobiliários, ambos localizados na Barra, foram colocados como garantia de financiamentos e provisões obrigatórias de operadoras de planos de saúde.
Com isso, parte do dinheiro arrecadado com a venda precisa ser destinado a esses compromissos.
O endividamento da Unimed-Rio ultrapassa R$ 1 bilhão.
Sendo que a dívida de curto prazo é de cerca de R$ 430 milhões.
Em caso de venda do hospital, parte do dinheiro está comprometido.
Isso ocorre devido há cerca de dois anos a cooperativa usou R$ 350 milhões de sua reserva.
Conhecida no setor como Peona (provisão de eventos ocorridos e não avisados) – e o hospital foi dado como lastro dessa operação.
As operadoras de planos de saúde são obrigadas, por lei, a provisionar um determinado percentual de suas despesas médicas.
Se o hospital for vendido, os R$ 350 milhões precisam voltar para essa reserva.
O hospital foi colocado como garantia de um empréstimo estimado hoje em R$ 120 milhões com a Caixa Econômica Federal (CEF).
Com isso, pelo menos R$ 520 milhões já estariam comprometidos, segundo fontes.
A Unimed-Rio informou que as duas transações são passíveis de negociação com a ANS e o banco.
No caso da sede da cooperativa, o imóvel foi arrolado na negociação da dívida tributária com a Receita Federal.
Segundo a cooperativa é possível substituir a garantia.
O outro caminho que começa a se desenhar é o sistema Unimed assumir a carteira da cooperativa do Rio.
A ANS recomendou que a Unimed-Rio venda até o próximo dia 4 sua carteira com 828,2 mil de clientes ao sistema Unimed.
Na prática, essa carteira teria de ser assumida pela Central Nacional Unimed (CNU) e Seguros Unimed, pois ambas têm atuação nacional.
A CNU e Seguros Unimed não têm interesse no negócio.
Ambas já foram obrigadas a absorver parte dos clientes da Unimed Paulistana que quebrou em 2015.
Na CNU, o prejuízo anual dessa carteira é de R$ 60 milhões e a taxa de sinistralidade chega a quase 190%.
Já na Seguros Unimed, esse indicador gira na casa dos 140%.
Para efeitos de comparação: uma operadora de plano de saúde lucrativa tem uma taxa de sinistralidade de 75%.
Procurada, a Unimed-Rio pontuou que a recomendação da venda da carteira ocorreu antes do envio de uma revisão do programa de saneamento.
Além disso, na visão da cooperativa, se houvesse um processo de liquidação, a carteira seria oferecida ao mercado e não a uma instituição específica.
Apesar da resistência da CNU e Seguros Unimed, a ANS tem poder de para determinar a transferência de carteira como ocorreu com a Unimed Paulistana em 2015.
Mas o caso da Unimed Rio é mais complexo devido à falta de opções de outras cooperativas na cidade.
Na capital paulista, a CNU e a Federação das Unimeds do Estado de São Paulo (Fesp) se dividiram na empreitada.
Na época, a Paulistana tinha cerca de 150 mil clientes com plano individual.
Já a Unimed-Rio tem 282 mil pessoas com convênios individuais e 260 mil com planos de saúde por adesão.
Na sexta-feira, a Fitch rebaixou o rating da Unimed-Rio de B para C.
A estrutura de capital da Unimed-Rio é insustentável.
Pois ela coloca a companhia em uma posição altamente vulnerável e exposta a um evento de inadimplência e a sanções regulatórias de curto prazo.
Diante dos atuais desafios da companhia e sem mudanças materiais de capital.
A Fitch acredita que a Unimed-Rio continuará a apresentar fluxo de caixa das operações negativo.
E alavancagem líquida superior a cinco vezes, sem considerar as obrigações fiscais de R$ 613 milhões, com base em junho de 2016″, pontua a Fitch.
Fonte: Valor Econômico -17/10/2016.