Saúde

OMS anuncia vacina eficaz contra o ebola

Por Roberta Massa | 23.12.2016 | Sem comentários

Uma vacina de origem canadense contra o ebola, que causou mais de 11 mil mortes na África Ocidental, pode ter “até 100%” de eficácia, declarou nesta sexta-feira (23) a Organização Mundial da Saúde (OMS).

Nenhum caso de ebola foi registrado entre as cerca de seis mil pessoas que receberam essa vacina na Guiné, no ano passado, contra os 23 casos de pessoas não vacinadas.

O que sugere “claramente que a vacina é muito eficaz e poderá ter uma eficácia de até 100%”, disse à AFP a vice-diretora-geral da OMS, Marie-Paule Kieny.

A equipe de pesquisadores de Kieny calculou que no caso de uma epidemia de grandes proporções, há 90% de possibilidades de que a vacina experimental, denominada rVSV-ZEBOV, seja mais de 80% eficaz.

“Finalmente após 40 anos, temos agora a priori uma vacina eficaz contra a doença do ebola” comentou o cientista americano independente Thomas Beisbert na revista médica “The Lancet”, que publicou na sexta-feira os resultados finais do ensaio.

Estes confirmam que a vacina rVSV-ZEBOV tem uma eficácia de 100% nos dez dias posteriores à administração de uma dose por injeção intramuscular em uma pessoa não infectada mas em contato com doentes.

Vacinação em anel

A vacina, cujos direitos de comercialização foram comprados pela empresa americana Merck, poderia ser registrada em 2018, depois que o dossiê for apresentado às autoridades americanas (FDA) e europeias (EMA).

O processo padrão de aprovação leva geralmente uma década, e às vezes mais, destacou Kieny.

“Se houvesse um caso de ebola e uma nova epidemia, agora estamos prontos para responder”, acrescentou.

Os testes foram realizados em uma região litorânea da Guiné que ainda registrava casos de ebola quando começaram, em 2015.

“Com a vacina Merck, a proteção ocorre muito rápido após a vacinação, mas não sabemos se a proteção continua seis meses depois”, disse Kieny.

Durante o ensaio, não foi possível reunir amostras biológicas de pessoas vacinadas com a finalidade de analisar sua resposta imunológica.

Mas outros estudos estão sendo realizados sobre esse aspecto, especialmente com trabalhadores que estão na linha de frente do ebola na Guiné.

O ensaio foi realizado usando um método chamado vacinação em anel, ou seja, em círculos ou grupos de pessoas que estiveram em contato com um doente.

Primeiro pessoas próximas, depois indivíduos que estiveram em contato com eles e assim por diante.

Essa foi a estratégia utilizada para erradicar a varíola.

Após o término do teste, houve poucos casos na Guiné e em Serra Leoa, e a equipe usou a mesma estratégia: a vacinação das pessoas em contato, com a autorização da FDA para usar a vacina fora de um ensaio clínico, disse Kieny.

Efeitos adversos

Em caso de epidemia de ebola antes da comercialização da vacina, 300 mil doses de urgência poderiam ser fornecidas para controlá-la, graças a um acordo entre a Aliança Global para Vacinas e Imunização (Gavi) e a Merck.

Alguns sintomas brandos, como dores de cabeça, fadiga e dores musculares, foram apresentados pouco depois da vacinação, mas desapareceram após alguns dias.

Houve ainda dois efeitos adversos mais sérios –uma reação febril e uma alérgica– e um terceiro possível (síndrome gripal), mas com recuperação nos três casos, sem efeitos a longo prazo.

Inicialmente excluídas do ensaio, as crianças de mais de seis anos foram beneficiadas.

Ainda falta determinar a segurança da vacina para as mulheres grávidas e as crianças menores.

Esta é a primeira vacina contra o ebola testada com tal eficácia no terreno.

Mas outras vacinas serão necessárias, especialmente para proteger os trabalhadores sanitários, garantindo uma proteção de longa duração. Muitas estão em desenvolvimento.

Uma vacina está sendo desenvolvida para oferecer proteção contra a cepa do Sudão, diferente da chamada Zaire, presente na África Ocidental, segundo a OMS.

Surgida no sul da Guiné no final de 2013, a recente epidemia na África Ocidental foi a pior desde a identificação do vírus na África Central em 1976, com mais de 28 mil casos notificados, entre eles 11.300 mortes.

Mais de 99% das vítimas foram registradas na Guiné, Serra Leoa e Libéria, onde a doença desorganizou os sistemas de saúde e devastou as economias.

Fonte: Folha de São Paulo-23.12.2016.

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