Inovação

Bristol-Myers põe o câncer no centro de sua estratégia

Por Roberta Massa | 07.07.2017 | Sem comentários

Desde que iniciou sua transformação em biofarmacêutica, em 2007, a Bristol-Myers Squibb (BMS) deixou claro que seus esforços de pesquisa e desenvolvimento estariam voltados a doenças que ainda não contavam com tratamentos satisfatórios. 

Passados dez anos, certas patologias, como a Aids, já não representam o fim da linha para seus portadores e as novas terapias melhoraram significativamente a qualidade de vida.

Outras, porém, ainda desafiam a indústria farmacêutica e, dentre elas, o câncer está no foco da estratégia da companhia americana.

“Queremos influenciar o câncer de tal maneira que passe a ser uma doença crônica”, diz o presidente da Bristol-Myers Squibb no Brasil, Gaetano Crupi.

A BMS foi pioneira no tratamento biológico da doença, a imuno-oncologia, e desenvolveu o medicamento número 1 em indicações na área, Opdivo (nivolumabe).

No país, conforme o executivo, o principal entrave ao avanço dos novos tratamentos para a doença e ao maior acesso da população está no governo federal.

Medicamentos para combate de outras doenças, como artrite reumatoide, hepatite C e Aids, também aparecem no portfólio da farmacêutica.

Mas, atualmente, cerca de metade das vendas globais são geradas pelas terapias inovadoras para tratamento do câncer – no ano passado, a BMS teve receita consolidada de US$ 19,4 bilhões.

Um ano depois da chegada de Crupi ao comando da operação brasileira, o que ocorreu em 2012.

Lean Six Sigma

Decidiu-se pelo alinhamento da estratégia local à da matriz e a farmacêutica se desfez do portfólio de medicamentos isentos de prescrição (OTC, na sigla em inglês).

Assim, o antigripal Naldecon e o antigases Luftal passaram a ser vendidos pela Reckitt Benckiser.

Pouco depois, a BMS vendeu também seu negócio de diabetes.

A sede da BMS no país também passou por mudanças.

Hoje, o edifício localizado na zona sul de São Paulo tem um andar inteiro praticamente integrado, sem muitas divisórias, dedicado ao refeitório dos funcionários e um espaço de convivência – usado também para reuniões informais -, e algumas poucas salas, uma delas de meditação.

No mesmo quarto andar, outra sala leva o nome de Verónica Hughes, filha do escritor Eduardo Galeano, que assim como o pai perdeu a luta contra o câncer.

“Hoje a operação brasileira é a réplica perfeita do que é a empresa nos Estados Unidos e no mundo”, afirma o executivo.

No país, a participação de medicamentos contra o câncer nas vendas está perto de 40%.

Aqui, porém, além do desafio da própria doença, os pacientes têm de enfrentar a ausência de uma política pública específica para seu tratamento,diz executivo.

Em outras patologias, como hepatite C, houve importantes avanços na saúde pública brasileira, acrescenta.

“Com ministros como o [Arthur] Chioro, que é médico, viu-se evolução técnica e científica. Agora, quando falamos da adição de novas tecnologias, não estamos encontrando abertura [no Ministério da Saúde]”, diz.

No caso do câncer, salvo acordos pontuais, o tratamento está quase que limitado a radioterapia e quimioterapia quando há uso de recurso público.

“Não há estratégia de longo prazo”, diz Crupi. Para o governo, a BMS fornece o Daklinza (daclatasvir), tratamento via oral da hepatite C, um medicamento biológico para artrite reumatoide (Orencia, abatacepte) e está em uma parceria de desenvolvimento produtivo (PDP) com a Farmanguinhos/Fiocruz para produção do antirretroviral Sulfato de Atazanavir.

Para o executivo, é preciso “vontade política” para que o tratamento do câncer seja contemplado em novas parcerias com o governo, a exemplo do que ocorreu com a hepatite C.

Diante do volume das compras públicas, foi possível chegar à redução do preço do medicamento.

“É uma questão de quando esses medicamentos [biológicos] serão oferecidos pelo SUS” ressalta, lembrando que os novos tratamentos ampliaram o acesso e a expectativa de vida dos pacientes.

Em todo o mundo, a BMS emprega atualmente cerca de 20 mil funcionários, número comparável a 60 mil antes de 2007, quando a farmacêutica começou a vender ativos em linha à estratégia de centrar sua atuação em especialidades.

No Brasil, que representa 10% das vendas da região que reúne todos os mercados fora da Europa, Estados Unidos e Japão – que, por sua vez, representa 12% das receitas -, são cerca de 400 empregados.

Fonte: Valor Econômico-07.07.2017.

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