Inovação

Brasil testa tratamento inédito para refluxo sem cirurgia

Por Roberta Massa | 23.11.2017 | Sem comentários

Um tratamento inédito no Brasil pode tornar-se um aliado para quem quer tratar o refluxo sem cirurgia ou utilizando medicamentos.

Presente em mais de 40 países, o Sistema Stretta foi utilizado pela primeira vez em setembro na Faculdade de Medicina do ABC (FMABC) e tem como objetivo fortalecer a musculatura do esôfago.

Quando apresenta frouxidão, permite que o suco gástrico suba do estômago e atinja o órgão, causando incômodo, ardência, dificuldade de deglutição e azia, desconfortos que atingem os pacientes que têm a doença.

Coordenador do serviço de endoscopia da faculdade, o gastrocirugião Eduardo Grecco explica que os resultados no exterior foram positivos e há um protocolo de estudo para verificar os efeitos do procedimento em pacientes brasileiros.

“É um tratamento rápido, feito em uma sessão única de 30 minutos.

O paciente acorda bem, recebe orientações para a dieta e vai para casa.

Ele vai ser acompanhado por quatro a seis semanas, utilizando a medicação que está habituado e, depois, vai suspender a medicação.”

A cirurgia, segundo ele, resolve 70% dos casos e tem eficácia que varia de cinco a sete anos para 30% dos pacientes que enfrentam o procedimento.

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Mas há os desconfortos ligados ao processo cirúrgico. “Tem corte, anestesia geral e o paciente fica de uma semana a dez dias com dificuldade para se alimentar.

Com o Stretta, ele tem dor e desconforto leves, mas já volta à dieta geral a partir do terceiro dia.

Quanto menos invasivo, mais rápida a recuperação, menos riscos de infecção e menos efeitos colaterais.”

Grecco, que também atua no Instituto Endovitta, diz que o procedimento endoscópico é sem anestesia, mas com paciente sedado.

E ondas de radiofrequência fazem com que o esôfago seja estimulado para ficar mais firme e impedir o retorno do material produzido no estômago.

Fazendo com que o refluxo seja interrompido e a digestão ocorra de forma normal.

“É introduzido um cateter com um balão na ponta. No final do esôfago, o balão é inflado e garras vão sair do balão e se prender ao músculo de todo o esôfago.

Elas emitem ondas de radiofrequência e isso vai levar a um aumento da força do músculo onde foi feito o tratamento.

A parte do esôfago que estava frouxa fica mais forte e consegue conter o refluxo”, detalha.

O escriturário Renan Rodrigues Cayres, de 25 anos, foi o primeiro paciente a ser submetido ao Stretta.

Ele começou a perceber os sintomas do refluxo aos 15 anos. “Acordava me engasgando e sentindo gosto de vômito na boca, tinha azia.

Não era todos os dias, mas isso foi me acompanhando durante os últimos dez anos.”

O escriturário conta que começou a fazer o tratamento com medicamentos quando estava com 18 anos e tenta, desde aquela época, melhorar os hábitos alimentares, mas encontra dificuldades. “Trabalho e faço faculdade.

Não consigo comer certinho e cada vez mais o meu quadro vai se agravando.”

Cayres diz que se interessou pelo procedimento assim que o conheceu.

“Além de não ser um processo cirúrgico, tem o efeito de poder suspender a medicação, que tem efeitos agressivos e é muito cara.

Minha vida vai ser muito melhor sem o refluxo.” E tem esperanças de resolver o problema. “Foi tudo certo.

Saí de lá andando. Às vezes, sinto um incômodo passageiro, mas está tudo bem.

Acredito que esse tratamento veio para ajudar.” Até o início do mês de outubro, a FMABC já havia feito a pré-seleção de 30 pessoas com a doença que vão participar do protocolo de estudo.

Cuidados

O gastrocirurgião afirma, porém, que o tratamento é eficaz, mas precisa da colaboração dos pacientes. “Não adianta continuar com os erros alimentares.

O método vai melhorar a capacidade do esôfago para o refluxo, mas o paciente não vai ficar livre para sempre.

A pessoa pode ter quadros agudos, principalmente se extrapolar em uma festa.”

Segundo Grecco, os casos de refluxo são comuns, mas muitos acabam não recebendo o tratamento correto, porque não chegam a ser levados para os especialistas.

“Cerca de 40% da população tem refluxo, mas muitos pacientes não relatam, acreditam que é um mal-estar pontual, por algo que comeu.”

Grecco explica que o refluxo atinge também pessoas sedentárias, obesas, quem não têm uma alimentação saudável e indivíduos que passam longos períodos sem comer.

“A pessoa precisa alimentar-se a cada três horas, evitar tomar café várias vezes durante o dia com o estômago vazio, além de frituras e cigarro.

Também evitar comer muito tarde, porque deitar de estômago cheio favorece o retorno do suco gástrico para o esôfago.”

Fonte: Estadão – 23.11.2017.

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