Gestão

Desperdícios na medicina privada elevam o custo da assistência médica

Por Roberta Massa | 18.06.2018 | Sem comentários

Custo na Saúde: na guerra entre hospitais e operadoras de planos de saúde, as balas perdidas alcançam os financiadores do sistema.

Enquanto os desperdícios ocorridos na medicina privada elevam o custo da assistência médica na folha de pagamento dos empregadores.

Os beneficiários de planos coletivos ou individuais sofrem com reajustes elevados e danos à saúde.

Submeter uma pessoa a um procedimento desnecessário é uma fraude gravíssima.

É um crime de lesão corporal difícil de tipificar porque sempre há opiniões diferentes.

Usar uma agulha de R$ 5 quando outra de R$ 0,50 faz exatamente o mesmo efeito.

Não é fraude, mas é um baita desperdício – afirma José Cechin, diretor-executivo da Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde).

Para o médico Caio Soares, diretor executivo da multinacional espanhola Advance Medical Group.

Que presta serviços de segunda opinião médica aos funcionários de empresas como Google, Renault e Nissan.

As iniciativas para flagrar desperdícios vão continuar a ser apenas paliativas.

Lean Six Sigma

Enquanto os indivíduos não assumirem a responsabilidade de cuidar da própria saúde.

O sistema foi construído de uma forma completamente paternalista.

Delegamos o controle da nossa saúde à operadora ou ao hospital.

Mas eles estão preocupados com a nossa doença, não com a nossa saúde.

Para ter um consultório dentro do hospital, o médico precisa ter produtividade.

Gerar pedidos de exames, procedimentos e consumo de materiais – ressalta Soares.

A maior fatia dos ganhos dos hospitais ainda é gerada pelos materiais e medicamentos consumidos pelos pacientes.

No paulistano Sírio-Libanês, por exemplo, esses itens são responsáveis por 52% das receitas.

No entanto, há uma percepção geral de que a forma de remuneração baseada no Pagamento por serviço (chamado de “fee for service”).

Está se esgotando porque ela estimula a doença – não a saúde.

Segundo essa lógica, quanto mais a situação do paciente se complica, melhor para o hospital e pior para o plano de saúde.

É verdade que a receita do hospital é baseada nesse modelo, mas ele é insustentável.

Pior do que eu não ter dinheiro é quem me paga não ter dinheiro – diz Fernando Torelly, diretor-financeiro do Hospital Sírio-Libanês.

Com clareza, Torelly descreve o atual cenário da saúde suplementar no Brasil:

O médico está insatisfeito com os honorários que recebe das operadoras.

O convênio está insatisfeito com a sinistralidade elevada.

O empregador está insatisfeito porque paga demais pelo plano de saúde.

O hospital está insatisfeito porque as tabelas pagas pelos planos de saúde são ruins.

Lean Six Sigma

O cliente está insatisfeito porque há demora no pronto-socorro e ele não consegue ter um bom atendimento.

A carteirinha do plano de saúde virou o passaporte da doença.

O paciente faz uma tomografia em uma semana e, na outra semana, faz de novo.

Pega radiação em dobro e os gastos aumentam – diz Torelly.

Uma das formas de reduzir os desperdícios é questionar a pertinência do que é feito.

Inspirado pelos centros de atenção primária de países como o Reino Unido.

O Sírio decidiu criar ambulatórios com médicos de família dentro das empresas.

A primeira unidade foi instalada no Banco Votorantim, em São Paulo.

Até o final do ano, mais dez serão inauguradas em outras companhias na cidade.

Como cerca de 80% dos casos atendidos por médicos de família são resolvidos sem a necessidade de outros especialistas.

Ou atendimento em pronto-socorro hospitalar, os custos diminuem para os empregadores.

Somos um hospital que tem toda a sua receita vinda da doença.

Agora estamos entrando em um novo modelo de negócios focado na saúde.

Nessa aposta, a remuneração foge da lógica tradicional do ‘fee for service”.

O empregador paga um valor fixo para que o hospital cuide da saúde de cada trabalhador.

E, em alguns contratos, há um adicional caso a instituição contribua para melhorar os indicadores de saúde daquele grupo.

Ao se instalar nas empresas e identificar casos que realmente necessitam de atendimento especializado.

A instituição vai gerar demanda para seus centros de diagnóstico e para tratamentos mais dispendiosos como os de oncologia, por exemplo.

Ou seja: o hospital pode receber menos por paciente, mas vai ganhar na escala de atendimento.

A mudança está acontecendo também na relação com as operadoras.

Ainda neste ano, o Sírio vai inaugurar em Brasília um hospital que será remunerado pelos convênios de acordo com os desfechos clínicos alcançados pelo paciente.

E não mais por volume de procedimentos.

Fatores como tempo e processo de recuperação dos doentes, resultado das cirurgias.

Entre outros, poderão ser levados em consideração no acordo sobre os pagamentos.

Fonte: O Globo – 18.06.2018.

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