Tecnologia

Tecnologia impulsiona evolução da saúde

Por Roberta Massa | 01.11.2016 | 1 comentário

Desenvolvimento científico no setor abre oportunidade de trabalho para médicos e profissionais de outros segmentos atuarem em conjunto.

O desenvolvimento tecnológico vem impulsionando a evolução da medicina e está unindo profissionais da saúde a outros, de áreas distintas.

Juntos, eles constroem novas técnicas que garantem diagnósticos mais precoces e precisos.

“Áreas que tradicionalmente não participam da cadeia da medicina têm agora uma grande chance de interação.

O indivíduo que faz algoritmos computacionais, por exemplo, tem encontrado oportunidade de trabalho na área médica”, diz o neuroradiologista e coordenador do Instituto do Cérebro, pertencente ao Hospital Israelita Albert Einstein, Edson Amaro.

Segundo ele, o poder computacional atual permite processar conhecimentos em larga escala com muita facilidade. “Para o médico usar esses dados, ele necessita do apoio de profissionais de áreas como matemática, ciência da computação, engenharia de dados e estatística, tanto que os hospitais estão contratando esses profissionais.”

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Amaro afirma que o novo profissional de saúde tem de estar preparado para aprender a lidar com máquinas e novas informações quantitativas sobre saúde.

Por outro lado, profissionais que não são da área médica têm novo nicho de atuação na saúde. Eles são muito valorizados, porque a informação é a chave para essa interação.”

De acordo com Amaro, o médico está assumindo a função de líder e gestor de equipe multidisciplinar que lhe dá suporte para utilizar todo o conhecimento existente em benefício do paciente.

“No processo de aprendizagem os médicos sempre estiveram expostos às várias possibilidades de doenças, interações com os pacientes e a forma de como abordar a questão humana.

Agora, para cada um desses passos é possível ter suporte de um programa de computador. Os novos profissionais precisam identificar os prós e os contras dessas ferramentas para saber como usá-las.”

Esses softwares são baseados em plataformas variadas e amplas. “É o conceito do big data: variedade, volume e velocidade da informação.

Eles analisam dados complexos mas, mesmo assim, ainda cabe ao médico tomar a decisão sobre o caminho terapêutico que irá aplicar a cada paciente.”

Aluno de pós-doutorado do Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Sírio-libanês, Thiago Romano afirma que a área médica vive um boom de informações novas todos os dias. “Isso gera uma formação compartimentada e exige que o profissional seja seletivo em relação às informações que recebe.

É importante trabalhar com o conceito de multidisciplinaridade e realizar interações com profissionais de outras especialidades médicas para oferecer o melhor tratamento ao paciente.”

Diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-libanês, Luiz Fernando Lima Reis diz que haverá desenvolvimento contínuo de máquinas cada vez mais sofisticadas, que deverão ser conectadas ao processo assistencial.

“Teremos grande necessidade de digitalizar o processo assistencial no futuro. Por isso, nos esforçamos em pesquisar métodos de transmissão de dados para que haja interconectividade entre a informação assistencial, o processo de diagnóstico, de consulta e acompanhamento do paciente.”

Segundo ele, outra área que está passando por grande evolução é a medicina nuclear. “Houve avanço importante com o desenvolvimento de traçadores moleculares que permitem entender não só a natureza da imagem, mas também a sua funcionalidade, por isso é chamada de imagem funcional.”

O diretor de governança clínica do Hospital Sírio-libanês, Antonio Antonietto, conta que 25% dos postos de trabalho no mundo estão ligados à área da saúde. “E isso tende a crescer.

No futuro, é provável que quem trabalhar com saúde terá mais oportunidades de emprego.”

Antonietto afirma que a área médica passa por uma revolução. “Acreditamos que no futuro haverá muito autodiagnóstico.

Hoje, já é possível comprar um aparelho e saber se a pessoa é hipertensa ou se tem diabetes. O mesmo ocorrerá em relação ao autocuidado para melhorar a saúde.”

Segundo ele, médicos que farão muito sucesso no futuro serão aqueles que tratarão da mobilidade. “Em 2050, a maior parte da população mundial será formada por idosos acima de 60 anos.

Será a primeira vez que isso vai ocorrer. Além de fisiatras, profissionais como fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais, cuidadores, enfermeiros e nutricionistas terão grande demanda.”

Antonietto afirma que o médico do futuro precisará ter grande conhecimento de informática para dominar as tecnologias. “A inteligência artificial, também chamada de computação cognitiva, é revolucionária.

A IBM já tem um sistema chamado Watson, que aprende conforme ensinamos.

Se passarmos as informações de um paciente ele dá o tratamento como se fosse um médico. Ele lê mil páginas em um segundo e decora tudo. É capaz, inclusive, de fazer interpretação metafórica.”

Segundo ele, geneticista é outra especialidade que terá enorme sucesso no futuro. “A cada dia existe alguém estudando como ligar ou desligar o gen que causa determinada doença. Outra novidade será a impressora 3D biológica. Cientistas americanos já estão construindo um vaso sanguíneo.

No futuro, será possível construir um fígado a partir de célula tronco. Já existe aparato teórico para isso.”

Software detecta mais de oito mil doenças raras

Segundo o diretor de ensino e pesquisa do Hospital Sírio-libanês, Luiz Fernando Lima Reis, com a evolução da medicina de ponta os tratamentos estão levando em conta as características individuais do paciente.

“A medicina está se tornando personalizada, isso envolve entender aspectos moleculares da doença e as características genéticas do paciente”, afirma.
Reis ressalta que todos os avanços na oncologia são realizados graças ao desenvolvimento de técnicas que envolvem o sequenciamento do DNA. “O entendimento dessa sequência é que determina as características do tumor e o tipo de tratamento”, diz.

Para ter papel ativo no desenvolvimento da medicina, três médicos e um doutor em bioinformática investiram na criação do laboratório Mendelics, responsável pelo desenvolvimento do software Abracadabra, que detecta mais de oito mil doenças raras e hereditárias.

“Somos especializados em diagnosticar todos os tipos de doenças genéticas. Interpretamos as informações genômicas e ajudamos a acabar com a odisseia de muitos pacientes. Com a análise do exoma, é possível auxiliar médicos no diagnóstico de doenças que antes dificilmente teriam suas causas conhecidas”, diz o neurologista, geneticista e presidente da empresa, David Schlesinger.

O medico afirma que sua empresa tem dez vezes mais capacidade se sequenciamento do que qualquer outro laboratório da América Latina. “Temos feito esforço grande para tornar os testes acessíveis à população. Exames que antigamente custavam R$ 50 mil, hoje custam R$ 10 mil.

Outros que custavam R$ 10 mil conseguimos fazer por R$ 1 mil a R$ 1,5 mil. Isso é possível tanto pelo ganho tecnológico de sequenciamento laboratorial quanto pela capacidade de produção que possuímos. Temo muitos médicos e o software que ajuda no diagnóstico.”

Segundo ele, os testes são feitos a partir de pedido médico. “Preferimos que as pessoas passem por um médico e que o retorno do resultado seja dado por um profissional.

Não estamos fazendo nenhum exame de previsão de prognóstico em pessoas que não têm nada, apenas para quem realmente tem uma doença ou um histórico familiar.”

Schlesinger afirma que a empresa está sempre inovando e lançando novos produtos. “Fazemos, por exemplo, sequenciamento de tumor e pré-natal não invasivo para diagnosticar síndromes e outras doenças a partir do sangue materno.”

O médico empreendedor afirma que a Mendelics tem como missão tornar o diagnóstico genético cada vez mais acessível ao paciente que precisa. “Para isso, o exame precisa ter alta precisão, ser o mais automatizado possível e ter um custo baixo.”

Ele afirma que o Abracadabra torna o exame mais eficiente e permite que o médico geneticista se concentre nas mutações com maior probabilidade de serem a causa da condição genética que está sendo investigada.”

Programadores, bioinformatas, médicos geneticistas e biólogos moleculares fazem parte do time que desenvolveu o sistema.

Fonte: Estadão-01.11.2016.

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