Aumento de custos ameaça a sustentabilidade do sistema de saúde
Por Roberta Massa | 03.10.2017 | Sem comentáriosNos últimos cinco anos, o preço dos planos de saúde no Brasil aumentou 67,9% — quase o dobro do índice oficial de inflação, que acumulou alta de 38,8%.
O número faz parte de um estudo apresentado nesta segunda-feira (02/10) pela Associação Nacional de Hospitais Privados (ANAHP) na Faculdade de Medicina da USP.
Mesmo comparado a outros itens da área de saúde, o aumento de preço dos planos chama a atenção.
Os serviços médicos, por exemplo, reportaram alta de 49,6% e os preços de hospitalização e cirurgia subiram 44,7%.
“Os custos da saúde têm subido constantemente e ameaçam a sustentabilidade do sistema como um todo”, disse Francisco Balestrin, presidente da ANAHP.
Mas esse não é um problema apenas brasileiro.
Uma das surpresas do estudo, segundo ele, foi a descoberta que o aumento de preços da saúde acima da inflação é uma tendência mundial.
Em 2016, a inflação média no mundo foi de 2,9%, enquanto os custos da saúde aumentaram 8,1%.
De acordo com Balestrin, são três os fatores que explicam esse fenômeno.
O primeiro é a transição demográfica. Como a população está envelhecendo, cresce a procura por serviços médicos e, consequentemente, seus custos aumentam.
“Se por um lado é bom, porque as pessoas estão vivendo mais, por outro isso gera um impacto nos preços da saúde”, diz.
Em segundo lugar, está a mudança no perfil epidemiológico da população.
Antes, as pessoas tinham doenças infecciosas, mais simples e baratas de serem tratadas.
Hoje, doenças crônicas não contagiosas, como câncer, problemas cardíacos e respiratórios, AVC, cujos tratamentos são mais caros.
Se os dois primeiros cenários não irão mudar, há espaço para promover alterações no terceiro ponto, que é o aumento da frequência de uso do sistema de saúde.
Atualmente, os brasileiros frequentam mais os hospitais e fazem mais exames e consultas.
Segundo Francisco Balestrin, isso “é decorrente de uma gestão inapropriada da saúde da população”.
Leandro Fonseca, diretor da ANS, concorda com essa visão.
Segundo ele, todo o modelo precisa ser melhor equacionado.
“A sub-utilização tem impactado na dinâmica de preços que tem sido exponencial no setor, muito pelo aumento de frequência”, afirma.
“Precisamos discutir uma mudança de modelo para que o beneficiário seja melhor conduzido pela rede assistencial”.
Segundo ele, por falta de direcionamento, os usuários acabam buscando consultas em especialistas errados, e por isso precisam ir a mais consultas do que seria necessário.
Além disso, refazem exames desnecessariamente.
Fonseca lembrou ainda que os avanços na medicina tendem a aumentar os custos dos tratamentos, com inovações tecnológicas que permitem tratamentos melhores e mais eficientes.
“Da mesma forma que estamos discutindo previdência, precisamos pensar em como equacionar questão do financiamento da saúde”.
Fonte: Época – 03.10.2017.
Ebook Planejamento Estratégico em Saúde, baixe agora o seu.