Saúde

Leishmaniose se espalha pelo estado de SP e avança para capital

Por Roberta Massa | 08.03.2018 | Sem comentários

Leishmaniose chegou a Guarujá em 2016, a 400 km das regiões tradicionalmente endêmicas.

leishmaniose visceral, doença causada por parasita transmitido ao homem pela picada de mosquitos (especificamente, flebotomíneos), se espalhou pelo estado de São Paulo e avança para a capital.

Apesar de o número de casos estar em queda no país como um todo, a preocupação é que a doença atinja um número cada vez maior de municípios paulistas.

Araçatuba e Birigui, no oeste do estado, foram as primeiras cidades a notificar casos autóctones em 1999.

Em 2017, 97 municípios (15% do total) já tinham registros. No acumulado em 18 anos, são quase 3.000 casos.

Um estudo inédito sobre a dispersão territorial da doença no estado de São Paulo mostra que a leishmaniose visceral se espalha por municípios paulistas.

Margeando rodovias principais e radiais e que avançará para a capital, como ocorreu em Belo Horizonte (MG), Natal (RN) e Campo Grande (MS).

No Brasil, ela se dispersou seguindo a construção da ferrovia Novoeste(1952), da rodovia Marechal Rondon (1988) e do gasoduto Bolívia-Brasil(1998).

Quando alcançou a região central paulista (Araçatuba e Bauru).

“A doença fatalmente chegará à capital. Do ponto de vista epidemiológico, é a crônica de uma morte anunciada.

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Quando olhamos a dispersão dos casos, eles vão na direção certinha de São Paulo.

É só uma questão de tempo”, afirma o infectologista Luiz Euribel Prestes Carneiro, orientador da pesquisa.

O trabalho é fruto de uma dissertação de mestrado do médico Rodrigo Sala Ferro defendida na Unoeste (Universidade do Oeste Paulista).

E que usou dados da Seade (Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados) e da Secretaria de Estado da Saúde.

Outra preocupação, segundo Carneiro, é que a leishmaniose visceral tem se espalhado em saltos.

Em 2016, por exemplo, ela chegou a Guarujá, a 400 km das regiões tradicionalmente endêmicas.

A transmissão predominante ainda é por contiguidade, ou seja, um município que possui o mosquito, cães ou indivíduos infectados transmitem para o vizinho.

Em alguns casos, a transmissão em saltos tem explicação parecida: a pessoa se muda e leva o cão infectado para outra cidade.

Ali ele é picado pelo mosquito, que, por sua vez, pica o homem.

Mas esse não foi caso do Guarujá. “Quebramos a cabeça e não encontramos o vetor [mosquito infectado]“.

Afirma o infectologista Marcos Boulos, coordenador de controle de doenças da Secretaria de Estado da Saúde.

A principal hipótese, segundo ele, é que existam outros vetores (possivelmente mosquitos que vivem em regiões de mata) envolvidos nessas transmissões em saltos.

Letalidade

A maioria das pessoas infectadas não desenvolve a leishmaniose visceral.

Mas quando não diagnosticada e tratada a tempo, ela mata em 90% dos casos. Não há vacina que previna a doença.

O despreparo dos médicos em fazer o diagnóstico precoce é uma das causas dessas mortes.

O caso de Guarujá é, de novo, exemplar.

No final de agosto de 2016, os irmãos Carlos Eduardo, de um ano e sete meses, e Carlos Gabriel, de quatro anos, foram internados com febre e queda de plaquetas.

O menor morreu no dia seguinte, e o óbito foi registrado como “morte natural”.

Carlos Gabriel permaneceu internado, mas sem diagnóstico da doença, que só foi fechado após três meses.

“Disseram que ele tinha leucemia, depois leptospirose.

Só no fim é que veio um laudo mostrando que era leishmaniose.

Se tivessem descoberto a doença no início, tenho certeza de que eles estariam vivos”, diz a mãe, Ana Paula Gomes da Silva.

Em 2016, o estado de São Paulo registrou 118 casos de casos de leishmaniose visceral, com dez mortos.

Ano passado, foram 121 casos e sete óbitos até 19 de dezembro.

Segundo Angelo Lauletta Lindoso, médico do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, situações de diagnóstico tardio não são incomuns na leishmaniose visceral.

“É preciso sensibilizar os médicos, especialmente os da atenção primária, a pensar mais rápido na doença para que ela seja tratada adequadamente.

Às vezes, a pessoa passa oito vezes em consulta e ninguém faz o diagnóstico.”

Febre de longa duração e aumento do fígado e baço estão entre os sintomas.

Testes de diagnóstico rápido e medicamentos para o tratamento são oferecidos no SUS.

Para Marcos Boulos, a demora no diagnóstico ocorre principalmente em regiões não endêmicas, onde médicos não convivem com a doença no dia a dia.

Ele tem ressalvas em relação aos testes de diagnóstico. “Não são tão bons.

Precisa fazer punção do baço, da medula ou dos gânglios.”

Apesar da expansão da doença no estado e do risco da chegada à capital, ele afirma que as ações de vigilância têm sido eficazes. O que resultou na queda dos casos.

Uma das medidas preventivas em estudo, segundo ele, é a oferta de coleiras com inseticida, capazes de combater o mosquito vetor.

O método excluiria a prática da eutanásia dos animais contaminados, protocolo polêmico utilizado pelos Centros de Controle de Zoonoses.

Clima e Vegetação

O estudo mostrou ainda que em regiões com mata preservada, como litoral sul, Itapetininga e vale do Paraíba, não há incidência da doença.

Ela se concentra em áreas do oeste e nordeste do estado, onde a floresta tropical foi substituída por lavouras, pastagens e plantações de cana.

A temperatura de superfície também teria papel na dispersão do mosquito.

Em regiões de planalto, que é seco no inverno e úmido e quente no verão, há número maior de casos da doença.

Áreas com saneamento deficiente também são propícias para a proliferação do vetor.

Fonte: Folha de São Paulo – 08.03.2018.

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