Saúde

Vacinação de crianças no país atinge índice mais baixo em 16 anos

Por Roberta Massa | 19.06.2018 | Sem comentários

Vacinação: em meio ao alerta sobre o risco de retorno de doenças quase esquecidas, os índices de coberturas vacinais de bebês e crianças tiveram nova queda em 2017.

E já atingem o nível mais baixo do país em ao menos 16 anos.

Pela primeira vez no período, todas as vacinas indicadas a menores de um ano ficaram abaixo da meta do Ministério da Saúde, que prevê imunização de 95% deste público.

A maioria tem agora índices entre 70,7% e 83,9% —a exceção é a BCG, ofertada nas maternidades, com 91,4%.

Os dados são do PNI (Programa Nacional de Imunizações), estratégia reconhecida internacionalmente pelo sucesso no controle de doenças no país.

Até o ano passado, o ministério afirmava que ainda era cedo para verificar uma tendência de queda na vacinação.

Agora, o governo federal já admite o problema.

Entre as vacinas com redução na cobertura estão aquelas que protegem contra poliomielite, sarampo, caxumba, rubéola, difteria, varicela, rotavírus e meningite.

“São os menores níveis já registrados”, disse à Folha a coordenadora do programa, Carla Domingues.

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A pasta informou dados desde 2002. “A partir de 2015, vimos uma estabilidade e uma pequena redução.

Mas em 2017 tivemos uma queda ainda mais forte.”

Para especialistas, a situação preocupa diante do risco de retorno de doenças erradicadas há décadas.

“Ter 70% de cobertura significa ter 30% de suscetíveis.

E aí a chance de as doenças voltarem é muito grande”, afirma a presidente da Sbim (Sociedade Brasileira de Imunizações), Isabela Ballalai.

É o caso do sarampo. Desde 2002, a taxa de cobertura da vacina tríplice viral, indicada para menores de um ano, ficava próxima a 100%.

Nos últimos dois anos, caiu para 95,4% e, agora, para 83,9%.

No mesmo período, a cobertura da vacina tetra viral, indicada a partir de 15 meses, passou de 79% para 70,7%.

Enquanto a vacinação cai no país, volta a crescer o número de casos da doença.

Atualmente, RR soma 172 casos confirmados de sarampo.

A maioria entre venezuelanos que vieram ao Brasil fugindo da crise no país vizinho.

Também há ao menos 147 casos confirmados no AM e 5 no RS.

Juntos, os três estados somam ainda 1.240 casos em investigação.

Antes do surto em Roraima, a taxa de vacinação no estado era de 80% em menores de um ano.

Para Daniela Campos, coordenadora de vigilância local, o índice menor que a meta colaborou para alguns casos também em brasileiros.

“Essas falhas ano a ano foram criando um bolsão de suscetíveis. Só não foi pior porque fizemos uma campanha em 2015”, afirma Campos.

“Com sarampo vemos que basta diminuir um pouco a cobertura vacinal.

Como ocorreu na Venezuela, que temos uma reintrodução da doença”, diz Domingues, do PNI.

Ela lembra que, em 2016, o Brasil recebeu da Opas (Organização Pan-americana de Saúde) um certificado de eliminação do sarampo.

Agora, o país corre o risco de perdê-lo se a transmissão não for interrompida.

A redução nas coberturas vacinais gerou alerta entre especialistas diante da notificação de um caso suspeito de poliomielite.

Em uma criança com paralisia que vive em uma comunidade indígena na Venezuela, o que não ocorria havia 29 anos.

Segundo a Opas, no entanto, novos exames descartaram a hipótese de poliovirus selvagem.

Ou uma mutação pelo vírus vacinal —o que, na prática, afastaria o risco de surto.

Na última semana, a Sociedade Brasileira de Pediatria divulgou um comunicado aos médicos para que fiquem atentos às coberturas vacinais contra a pólio.

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Em 2002, a vacina ofertada para menores de um ano contra pólio registrava coberturas superiores a 96%.

Agora, atinge 77%. Em alguns estados, como São Paulo, o índice é ainda menor — 068,5%.

Diante dos dados, o governo já avalia estratégias como aumento nos horários de funcionamento dos postos de saúde e parceria com as escolas.

Segundo a coordenadora do PNI, a falta de tempo e os horários limitados dos postos de saúde.

Com a maior participação das mulheres no mercado de trabalho, estão entre os fatores alegados em campanhas para o atraso na vacinação.

Outro é a falsa sensação de segurança dos pais.

“As pessoas acham que seu filho está bem nutrido, que vai para escolas em bairros com condição adequada de saneamento e boa alimentação e por isso não vai pegar doenças.

Mas esquece que viajam, vão para outro país, shoppings, parques e pode ter alguém doente.”

Em 2007, uma pesquisa apontava essa postura como mais frequente entre pais de classes econômicas mais altas.

Agora, teme-se a expansão desse comportamento para outros grupos.

“Há um relaxamento da população e dos próprios profissionais de saúde”, afirma Ballalai, da Sbim.

Para ela, a queda nas ações de busca ativa por não vacinados e frequentes casos de desabastecimento de vacinas nos últimos anos podem ser apontados como entraves.

“Tivemos falta de BCG, por exemplo, que é aplicada na maternidade.

Uma vez que sai de lá sem vacina, é mais difícil ir ao posto de saúde.

E se vai no posto e não tem, acaba não voltando”, completa.

Em nota, o Ministério da Saúde diz que mantém a distribuição de vacinas e trabalha na regularização dos estoques em casos de faltas pontuais.

Já Luciana Rodrigues, da Sociedade Brasileira de Pediatria, atribui a queda nas coberturas a movimentos contrários à vacina e ao avanço de informações falsas nas redes sociais.

“É um movimento inadequado e fantasioso, mas às vezes algumas famílias entram nessa conversa.”

O ministério diz que dados iniciais não apontam tais fatores como predominantes — mas que é preciso combatê-los.

Fonte: Folha de São Paulo – 19.06.018.

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