Saúde

Parto cesárea também pode ser humanizado

Por Roberta Massa | 23.04.2019 | Sem comentários

Humanização do parto normal, porém, não é uma vivência real para todas as mulheres.

Há alguns anos tem se falado em humanização do parto, muito mais relacionada a experiências positivas vivenciadas pela mulher durante o parto vaginal.

Parir em casa, na água e nada de intervenções médicas viraram sinônimos de humanização — embora analgesia e hospital também façam parte disso.

No entanto, há medidas que podem ser adotadas em uma cesárea, e no parto normal, que tornam o procedimento também humanizado.

A humanização do parto é, na verdade, uma prática médica que deveria ser padrão para todas as mulheres, não um privilégio, segundo avalia o obstetra Alberto Guimarães.

No caso do parto vaginal, atender as vontades da mulher de como se posicionar, se terá analgesia ou não, se poderá dar à luz em casa ou no hospital faz parte desse atendimento.

“Um parto respeitoso cabe em todas as condições. [Na cesárea], não pode ser um arrancamento de bebê”, diz o médico, defensor do parto humanizado e criador do programa Parto Sem Medo.

Carolina Burgarelli, ginecologista e obstetra da Maternidade Pro Matre Paulista, afirma que a humanização do parto é a “inclusão da mulher em um cenário como protagonista de tudo o que está acontecendo.

Isso é o primeiro passo para ela se sentir bem e respeitada, seja qual for o parto”.

Essa forma de lidar com a mulher e a gestação cabe também antes do parto.

Os especialistas avaliam que uma boa relação entre médico e paciente, em que ambos discutem o plano de parto e a mulher tem um panorama de tudo o que está acontecendo com ela e com o bebê, é essencial.

Isso faz com que ela se sinta mais tranquila para escolher se quer dar à luz por meio vaginal ou de uma cesárea.

No caso da cirurgia, Carolina diz que algumas práticas já foram abandonadas, embora ela ainda afirme ouvir relatos de mulheres que as vivenciaram.

“Não tem motivo para manter as mãos [da gestante] amarradas.

Precisa ter um suporte lateral, porque o braço solto pode contaminar o ambiente cirúrgico, mas ela pode se movimentar um pouco.

A equipe conversar com ela, explicando o que está sendo feito, faz ela se sentir mais segura”, explica.

Assim como no parto normal, o bebê que nasce com boa saúde na cesárea pode ir diretamente para a mãe caso ela também esteja em boas condições.

“Depois do nascimento, o corte do cordão umbilical pode ser feito após parar de pulsar.

O bebê é levado para o contato pele a pele com a mãe, que pode, inclusive, amamentar na sala”, diz Carolina.

Guimarães acrescenta outras medidas que podem ser adotadas: ambiente com pouca luz e temperatura agradável para a mulher, uma playlist de músicas que ela goste ao fundo e médicos focados na assistência, sem falar sobre assuntos aleatórios.

A estudante de jornalismo Ana Clara Matsuguma, de 22 anos, considera que o parto da filha dela, por cesariana, foi humanizado.

“Meu marido ficou do meu lado o tempo todo. Só na hora da anestesia que eu quis que meu médico ficasse comigo, segurando minha mão.

Ele conversou comigo em todo momento, foi me explicando tudo que fazia e logo que ela saiu, veio para mim”, relata a jovem, que deu à luz em um hospital de Jundiaí.

“Eu estava mais nervosa com o nascimento dela do que preocupada com a cirurgia em si.”

Já a professora Heidi Lambauer Buchmann, de 36 anos, conta que, embora o parto do filho tenha sido vaginal, algumas situações a incomodaram.

“Minha médica não se colocou muito a favor, falava que íamos ver quando chegasse perto.

Mas eu queria garantir que estava pronta”, conta. Ela fez o plano de parto e optou pelo normal, humanizado e com analgesia.

O pequeno Benjamin nasceu no centro de parto normal da Pro Matre, onde a professora afirma ter recebido todas as informações e assistência necessárias para se sentir à vontade.

A bolsa amniótica dela estourou com 38 semanas de gestação.

“Quando cheguei ao hospital, estava com quatro centímetros de dilatação.

Entrei na banheira e comecei a dilatar mais rápido. Fiquei tranquila de estar no hospital”, lembra.

A médica dela, porém, que não faz parte do corpo clínico do centro hospitalar, tomou algumas atitudes que não deixaram Heidi confortável.

“Quando o bebê estava descendo, ela começou a falar que ‘um bracinho aqui ia bem’.

No final, ela disse: ‘vou ter de dar um cortezinho para sair mais fácil’ e fez episiotomia”, relata a professora.

A medida, que é um corte entre a vagina e o ânus, amplia a passagem para que o bebê saia mais facilmente.

Embora tenha sido muito associada à violência obstétrica – e é quando ocorre de forma desnecessária e sem consentimento da mulher -, Carolina explica que há indicações específicas na assistência ao trabalho de parto.

“Ela é indicada nos casos em que há o diagnóstico de sofrimento fetal, quando existe a necessidade de que o nascimento ocorra em um menor espaço de tempo a fim de que sejam realizados os primeiros cuidados ao recém-nascido”, diz.

Casos em que a paciente tem períneo curto e que, no momento em que o bebê está ‘coroando’, há alto risco de lacerações, o procedimento também é recomendado.

“A avaliação do períneo deve ser realizada pelo médico que acompanha a gestante nas últimas semanas de gravidez, durante o pré-natal.

Porém, somente no momento do trabalho de parto é que se pode verificar a real necessidade de uma episiotomia”, pondera a médica.

A medida pode e deve ser discutida entre mulher e equipe médica.

Fonte: Estadão – 23.04.2019.

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