Gestão

Saúde baseada em valor: afinal, como aplicá-la na prática?

Por Roberta Massa | 24.04.2019 | Sem comentários

À medida que o aumento da expectativa de vida e o de doenças crônicas eleva os gastos com saúde em todo o mundo, ficou claro para muitos formuladores de políticas de assistência, que o modelo de saúde baseada em valor deve substituir a abordagem usual de contenção de custos, que não é mais sustentável.

Para manter a prestação de cuidados acessíveis e com alta qualidade, esses especialistas reconhecem cada vez mais a necessidade de criar um vínculo entre os custos e os resultados com a saúde, a fim de melhorar o valor para os pacientes.

Nas últimas décadas, os sistemas de saúde em países, como o Reino Unido e os EUA, trabalharam para medir a eficiência relativa dos custos e a eficácia comparativa de diferentes intervenções médicas.

Vejamos, em detalhes, como essa abordagem pode fazer diferença no resultado e garantir a sustentabilidade dos serviços de saúde. Confira!

O que é a saúde baseada em valor?

Esse modelo, que vincula custos e resultados, conhecido como medicina baseada em valor, inclui uma análise objetiva de custo-benefício.

O foco é a relevância entregue aos pacientes, em vez do modelo tradicional voltado para o volume de serviços.

A proposta surgiu com a publicação da obra “Repensando a Saúde: Estratégias para Melhorar a Qualidade e Reduzir os Custos (2006)”, de Michael Porter.

Basicamente, o modelo considera a qualidade do serviço prestado ao paciente e o resultado de melhora de saúde obtido, bem como a satisfação do público atendido pelo sistema.

Além disso, o conceito se baseia em uma visão de longo prazo.

Como o foco não está na cura de doenças, e sim na melhora da saúde, é preciso elaborar ações preventivas e contínuas, com o objetivo de proporcionar uma vida mais saudável para o paciente.

Para tanto, é necessário obter uma avaliação profunda, incluindo dados, como pressão, altura, peso, taxas de glicose e colesterol, ritmo cardíaco; prática de exercícios físicos e assim por diante.

Atualmente, isso pode ser feito por meio de sensores, que ajudam a determinar o que é, ou não, desfrutar de uma vida saudável para um determinado grupo de pessoas.

Ainda, para que o sistema funcione é fundamental promover os estímulos certos.

Essencialmente, eles podem ser obtidos com uma remuneração que considere os índices de saúde das vidas cobertas pelo sistema, independentemente da quantidade de procedimentos necessários para alcançá-los.

Como resultado, o foco passa a ser o cuidado com a saúde e não a cura de uma doença, por exemplo, se ocorre aumento da taxa de fumantes em um determinado grupo, o médico procurará diminuí-la de alguma forma para evitar os seus efeitos, ou seja, as ações preventivas assumem um maior grau de importância, pois são definitivas para atingir as metas estabelecidas como valor.

Como o Reino Unido aplica o modelo na prática?

Na última década, o Reino Unido tornou-se líder entre os países europeus em cuidados baseados em valores.

Atualmente, o programa está em andamento local e nacionalmente, em todo o sistema do National Health Service (NHS).

Segundo o Dr. Anant Jani, pesquisador do Programa de Saúde Baseada no Valor da Universidade de Oxford, há uma distinção entre o modelo teórico e o do NHS: “[…] a definição de valor de Porter é sobre resultados de pacientes sobre custo, o que seria necessário, mas não suficiente para um sistema de saúde universal [como o do NHS]”.

Ainda assim, o modelo oferece uma boa ideia das possibilidades da saúde baseada em valor.

O Reino Unido mesmo, já opera com a instalação de sistemas de monitoramento acústico, que acompanham o sono dos pacientes e disparam alertas quando os ruídos excedem os níveis especificados.

Desse modo, os profissionais de atendimento podem detectar quando são necessários cuidados durante a noite e tomar a ação adequada.

Segundo o Departamento de Saúde e Assistência Social do país, a introdução do sistema melhorou a qualidade do atendimento noturno, reduziu o número de quedas durante a noite e evitou outros distúrbios desnecessários.

Além do monitoramento acústico, o objetivo é melhorar o atendimento e o bem-estar dos pacientes com o uso de tecnologias digitais.

Os desafios com a prestação de cuidados domiciliares incluem uma força de trabalho preparada, agendamento de visitas e o relacionamento com os pacientes e os familiares envolvidos no planejamento.

Para atender essas demandas e melhorar a qualidade do serviço, a tecnologia é usada de várias maneiras, por exemplo, para conectar pacientes a cuidadores próximos, automatizar funções, como agendamento e usar de meios digitais para registrar informações.

O documento do departamento de saúde não fornece dados específicos, mas menciona que essas inovações em atendimento domiciliar promoveram uma enorme diferença na satisfação dos pacientes.

Sendo assim, os responsáveis já trabalham no desenvolvimento de um chatbot de inteligência artificial para ajudar os cuidadores com recomendações para atendimento domiciliar de pessoas em algumas condições, como a demência.

Quais as possibilidades e os desafios de aplicação da saúde baseada em valor?

É fácil para os profissionais de saúde perceber que o paciente está cada vez mais exigente e informado, o que cria novas demandas de atendimento. A saúde baseada em valor ajuda nesse sentido porque trabalha com uma visão mais crítica e que antecipa problemas.

Entretanto, para aplicar o modelo é preciso monitorar os pacientes com o uso de tecnologia para medir sua saúde.

Caso contrário, seria necessário um grande volume de consultas periódicas e um exército de profissionais ajudando na gestão de dados.

Além disso, com o modelo tradicional de remuneração por serviço, um paciente pode entrar no hospital para fazer uma cirurgia considerada simples e contrair uma infecção hospitalar que poderia ser evitada, isso com um foco mais voltado para o paciente e a adoção de cuidados relativamente simples.

Para mudar o quadro atual e pensar os empreendimentos do futuro, um dos principais desafios é criar mecanismos de acompanhamento e geração de indicadores confiáveis para grandes populações, e não apenas para 5 ou 10 pacientes.

Embora já existam soluções para monitorar pessoas remotamente, ainda é necessário evoluir na validação e no acompanhamento dos indicadores gerados.

Na Infoway, testamos esses modelos de saúde baseada em valor utilizando tecnologia, Big Data e mecanismos similares.

Nesse exercício, notamos o quanto é importante trabalhar com procedimentos e estruturas capazes de acompanhar um grande volume de pacientes, detectando comportamentos anormais e apontando quando o profissional deve atuar.

Basicamente, trata-se de identificar exceções em parâmetros estabelecidos.

Desse modo, o médico pode atuar estritamente onde faz diferença e evita tarefas mais burocráticas, ou seja, a saúde baseada em valor também é sobre melhora da produtividade, especialmente se considerarmos a teoria de Porter.

Fonte: Infoway-24.04.2019.

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