Gestão

Serviços de saúde precisam priorizar o valor que geram aos pacientes e incentivar novos modelos de remuneração

Por Redação GeHosp | 16.11.2021 | Sem comentários

Após um período de retração econômica, seguido de pandemia e perda do poder de compra do consumidor brasileiro, o sistema de saúde no país precisou se reinventar.

A implementação de medidas em busca de eficiência, por vezes adiada em outros momentos, foi necessária e capaz de trazer mudanças que parecem ter vindo para ficar diante do modelo de remuneração tradicional no setor.

Novos players surgiram e novos desafios estão no horizonte tanto de hospitais quanto de operadoras de planos de saúde. Para abrir a discussão promovida pela Associação Nacional de Hospitais Privados (Anahp) na Hospitalar Hub com o tema “Desafios da Saúde Suplementar em Pauta – Novos modelos de remuneração na prática”, Antônio Britto, diretor executivo da entidade, propôs um questionamento: “Porque os novos modelos de administração são tão admirados no Brasil, mas ainda tão pouco praticados?”, indagou.

Adriano Londres, empreendedor na Arquitetos na Saúde, traçou um panorama capaz de trazer reflexões e provocações que envolvem o contexto desse debate. Segundo Adriano, o caminho para que prestadores e operadoras mudem verdadeiramente seus modelos de negócio passam por algumas questões.

“É preciso que haja confiança em relação ao caminho em direção a mudança e também competência para que as lideranças atuais do setor entendam que o que deu resultado até hoje não dará mais daqui para frente”, afirmou.

De acordo com Adriano, o setor de saúde suplementar, mesmo diante de cenários desfavoráveis, ainda não conseguiu discutir uma agenda estratégica eficiente e com visão de futuro.

O palestrante identifica a necessidade de melhorar os modelos de remuneração atuais, mesmo que seja buscando soluções para que, por exemplo, seja possível a existência de uma área assistencial lucrativa nos negócios.

O empreendedor reitera que o lucro ético é uma obrigação e é importante começar pequeno, alinhar com parceiros de confiança os primeiros passos e debater, inclusive, comprometimento de risco de todas as partes envolvidas.

Em comparação com dados de uma pesquisa de 2014 da consultoria Arquitetos da Saúde, dados recentes de uma pesquisa da Anahp desse ano sobre novos modelos de remuneração mostram que o fee for service ainda é o principal modelo de remuneração praticados pelos hospitais.

“Esse modelo não vai deixar de existir em lugar nenhum do mundo, mas é preciso entender que caminhar em direção a novos modelos é o futuro”, afirmou Adriano.

Ainda segundo essa comparação o número de beneficiários de planos de saúde despencou no brasil.

Em relação à 2014, ainda estamos com 2 milhões de beneficiários a menos. Em cenários de crise econômica, como essa que enfrentamos atualmente, a saúde suplementar perde segurados.

“Tanto operadoras quanto hospitais enfrentam um momento tenso. É hora de caminharmos para construir pontes em vez de muros”, analisa Adriano.

As escolhas dos consumidores devem fugir da lógica apenas pautada em preço, mas de negócios de saúde capazes de gerar valor.

A moderadora do debate Evelyn Tiburzio, diretora de Conteúdo da Anahp, lembrou o resultado de um estudo realizado pela entidade, que sinalizava a frequência de uso por parte dos usuários como o principal fator de aumento de custo na saúde e que cuidados coordenados e atenção primária são assuntos que devem ser levados em consideração.

“Precisamos de planos de saúde e não de não planos de doença. Vemos mudanças na forma como se faz assistência, mas o caminho não está feito. Precisamos educar a sociedade sobre o que é realmente saúde.

Não é só tomografia, não são só os maiores e mais tradicionais, ou mais baratos ou com maior rede credenciada.

Os melhores planos são os que geram mais valor ao consumidor”, encerrou Adriano.

Em um segundo momento do evento, foram apresentados quatro cases práticos que discutiram diferentes modelos de remuneração.

Quem moderou o debate foi o Ary Ribeiro, CEO do Hospital Infantil Sabará, e participaram da conversa o gerente de Negociação e Relacionamento na UnitedHealth Group – Amil, Leonardo Servolo, o diretor-executivo e confundador da Exccella Vallue & Access, Fábio Gonçalves, além de Gabriela Brazão, head of the Health Community na Alice e também Vanessa Teich, superintendente de Economia da Saúde no Hospital Israelita Albert Einstein.

“A gente constantemente reavalia o que deu certo e o que precisa melhorar nos processos internos. Na Amil, temos desafios importantes sobre alguns modelos de remunerações específicos, mas dificilmente fugimos da discussão de preço, que ainda é o fator principal de tomada de decisão do nosso consumidor”, pontuou Leonardo, representante da empresa.

Já Fábio Gonçalves, CEO da Excella, uma startup de saúde e tecnologia, afirmou que sua experiência se baseia em inovação. “Começamos acreditando na mudança, arriscamos um novo modelo baseado na ótica do cuidado ao paciente e que o modelo de planos vigentes tinha desperdícios a serem superados.

E a melhor forma de mudar uma cultura e inovar é com resultados”, ressaltou Fábio.

A Alice, uma inovação em termos de plano de saúde, foi tema de fala de Gabriela Brazão. “Alice é nova e uma mega reponsabilidade. Poucos parceiros, mas certos. Parceiros que acreditam no nosso propósito.

Como somos uma gestora de saúde e existimos para tornar o mundo mais saudável, essa é nossa missão.

O foco não é na doença, mas em potencializar a saúde”, afirmou. Para isso, cada associado conta com um time de médico, enfermeira, preparador físico e nutricionista que acompanham a evolução de cada membro.

Assim, a empresa acredita na relação direta e na importância do vínculo com cada pessoa. “Por exemplo, com essa forma de cuidar do indivíduo, apenas 30% das litíases foram para cirurgia, quando a média geral passa de 80%.

Isso é bom para todos, até para os hospitais que podem se dedicar a cirurgias mais complexas e serem desobrigados das mais simples. A ida a hospitais também reduz com um atendimento personalizado”, disse Gabriela.

Como gestora e representante do Hospital Israelita Albert Einstein, Vanessa Teich reafirmou que o fee for service ainda é a principal receita dos hospitais.

“Quando se criaram os pacotes prevendo valores para cirurgia, eles foram feitos para ajudar os planos de saúde a preverem custos de cada procedimento.

Será que precisamos de um novo modelo de remuneração ou de uma nova coordenação de cuidados bem feita em que os tratamentos sejam realmente seguidos”, questionou.

Alguns pontos levantados na discussão tiveram a concordância dos debatedores, como a publicização de bons resultados que podem induzir a melhores práticas em todo o sistema de saúde.

Além disso, os debatedores afirmaram que a visão da saúde precisa ser de longo prazo e o seu foco deve estar no paciente, com soluções desenhadas a partir dessas necessidades.

Fonte: ANAHP-16.11.2021.

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