Saúde

Pronto-socorro é o lugar ideal para quem gosta de pegar gripe

Por Roberta Massa | 11.04.2016 | Sem comentários

Diante desse surto inesperado de gripe H1N1, o que é mais sensato: adotar medidas preventivas, como evitar lugares com grande aglomeração de pessoas, ou fazer exatamente o contrário, se enfiar no meio de uma multidão infectada?

Por mais surreal que possa parecer, as pessoas estão optando pela segunda alternativa. As cenas das últimas semanas, com mães passando horas na fila para conseguir uma dose de vacina contra a gripe nas clínicas privadas de imunização ou aguardando horas em pronto-socorros superlotados, mostram que, mais do que o H1N1, é as pessoas que estão em surto coletivo.

Como bem disse o doutor Drauzio Varella no programa Fantástico, ” o pronto-socorro é o lugar ideal para quem gosta de pegar gripe”. Por que? Porque esses locais estão cheios de pessoas infectadas, que tossem, espirram e espalham os vírus.

Quem deveria estar na fila de um PS? Apenas pessoas do grupo de risco (idosos, pessoas com doenças crônicas, gestantes, crianças pequenas) que apresentam febre alta repentina, prostração, muito mal-estar e muita dor no corpo. Do contrário, a recomendação é para agir como nas gripes comuns: repouso, hidratação e antitérmico para combater febre e dores.

Ocorre que hoje as pessoas não dispõem de uma estrutura básica de atenção à saúde, faltam pediatras, faltam equipes de saúde da família. Diante das notícias de que há gente morrendo de gripe, as pessoas se desesperam e correm para os pronto-socorros. Sabem que mesmo que demore, uma hora serão atendidos.

Na outra ponta, quem possui um plano de saúde tampouco tem à disposição um médico de confiança ou um ambulatório de atenção básica. A opção de atendimento rápido acaba sendo também o pronto-socorro. Porém, muitas vezes, o que mais as pessoas precisam é de orientação, não de uma estrutura hospitalar complexa.

Por exemplo, muitos dos atendimentos nos pronto-socorros hoje são de pacientes resfriados e com quadros gripais leves. Gripe e resfriado são doenças distintas, causadas por vírus diferentes, mas que partilham vários sintomas em comum, o que leva muita gente a pensar que são sinônimos. Ambos são infecções respiratórias causadas pelos vírus de diferentes famílias.

Duas das principais diferenças entre a gripe e o resfriado são a febre e o estado geral da pessoa. Enquanto o resfriado não costuma causar febre (exceto em crianças pequenas), na gripe a febre é comum e costuma ser acima de 38°C, principalmente nas crianças. Na gripe, a pessoa também se sente mais prostrada, com dores de cabeça, nos músculos e articulações. No resfriado, tem coriza, tosse e espirros, mas se sente mais ou menos bem disposto, apenas fica incomodado com esses sintomas.

Ou seja, nesse pandemônio que virou o enfrentamento do surto de H1N1, muita gente resfriada que lota as emergências pode sair de lá pior do que entrou, levando para casa uma gripe de brinde.

E o que dizer dessa histeria coletiva nas clínicas de vacinação? Gente, não estamos vivendo a versão moderna da gripe espanhola, pandemia de influenza que entre 1918 e 1920 que matou 50 milhões de pessoas no mundo. Antes de sair desesperado atrás de vacina, enfrentando horas de fila e preços exorbitantes, avalie se não é melhor esperar. Se você é idoso, gestante, criança pequena ou doente crônico, em seis dias terá vacina de graça nos postos de vacinação. Se não pertence a esses grupos, é o caso de se perguntar: preciso mesmo enfrentar essa loucura toda?

Só lembrando que após tomar a vacina, a pessoa só estará imunizada dentro de três a quatro semanas, que é o tempo necessário para a produção de anticorpos contra a doença. Já para ser infectado é bem mais rápido: de três a sete dias. Portanto, com vacina ou sem vacina, não descuide das medidas preventivas: lave bem as mãos com água e sabão ou com álcool, evite levar as mãos aos olhos, nariz e à boca e cubra a boca quando for tossir ou espirrar. E tenha calma porque o mundo não está acabando. Ainda.

Fonte: Folha de São Paulo-11.04.2016

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