Na Venezuela, diabéticos morrem sem insulina e escassez piora
Por Roberta Massa | 01.12.2017 | Sem comentáriosEm dia caótico na Venezuela, escassez de combustível afeta transporte público, médicos reclamam de epidemia de malária e de surto de doenças já erradicadas.
A Venezuela viveu um dia caótico na quinta-feira, dia 30. Algumas estações do metrô de Caracas fecharam por falta de luz.
Houve queda de energia em várias regiões. Em 17 Estados, a gasolina está no fim.
Em Vargas, médicos anunciaram que 24 diabéticos morreram nos últimos quatro meses por falta de insulina.
A Organização Mundial de Saúde (OMS) admitiu, pela primeira vez, que o país passa por uma crise humanitária.
“Nos últimos quatro meses, 24 pacientes diabéticos morreram em razão da falta de insulina e amputamos cinco pessoas em um mês”.
A frase de Monica Conde, médica do Estado de Vargas, no norte da Venezuela, é um retrato da crise.
“Alguns tipos de insulina até chegam às farmácias particulares, mas custam muito caro”, disse Monica ao jornal La Verdade de Vargas.
“No hospital, não temos como tratar os pacientes e estamos fazendo vaquinha para comprar alguns produtos básicos.”
Diante da escassez de remédios, a OMS admitiu ontem que há uma crise humanitária no país.
Desde 2014, faltam pelo menos 100 remédios essenciais.
Segundo a Federação Farmacêutica da Venezuela, 85% dos medicamentos necessários à população sumiram das farmácias.
Quando se trata de doenças crônicas, como diabetes e câncer, a escassez é de 95%
Doenças como a difteria, erradicada há 24 anos, reapareceram, assim como a tuberculose e o sarampo.
A Venezuela enfrenta uma epidemia de malária, com 200 mil casos até outubro, metade dos casos de todo o continente americano.
A desnutrição em crianças menores de cinco anos aumentou de 54%, em abril, para 68% em agosto.
Segundo um estudo da ONG Cáritas da Venezuela, vinculada à Igreja Católica, 35,5% das crianças pobres do país, com idade de 0 a 5 anos, estão desnutridas.
A mortalidade infantil na Venezuela aumentou 30,12% no ano passado, em relação a 2015, com 11.466 mortes de crianças de 0 a 1 ano.
Não foram apenas os alimentos e os remédios que desapareceram das prateleiras.
A escassez de métodos contraceptivos e de camisinhas causou um aumento drástico do número de doenças sexualmente transmissíveis.
Como a gonorreia, sífilis e herpes, além de uma epidemia de abortos caseiros – o aborto na Venezuela é proibido, a não ser em casos de risco de vida para a mãe.
Segundo ONGs, em 2015, foram 2.366 atendimentos médicos em decorrência de abortos improvisados. Em 2016, o número aumento para 3.430.
Para os médicos, a escassez de métodos contraceptivos é a causa do aumento de casos de aids e de outras doenças sexualmente transmissíveis (DSTs), como gonorreia, sífilis e herpes.
Este ano, mais de 6,5 mil pessoas contraíram o HIV na Venezuela. Em 2016, foram 5,6 mil. Em 2014, 3 mil.
A ginecologista do Hospital Universitário de Caracas, Vanessa Diaz, afirmou ao jornal Washington Post que o número de pacientes com outras DSTs também aumentou.
“Dos pacientes que atendi, a cada dez, seis tinham alguma DST. Há dois anos, esse número não passava de dois”.
O caos na Venezuela começou a afetar também questões mais prosaicas – do fornecimento de gasolina à energia elétrica.