Saúde mental: ex ministros divulgam carta contra reformulação política
Por Roberta Massa | 18.12.2017 | Sem comentáriosNo documento, eles afirmam que as mudanças representariam um retrocesso para uma política pública reconhecida e premiada internacionalmente.
Cinco ex-ministros da Saúde divulgaram neste fim de semana uma declaração conjunta contra a reformulação da Política de Saúde Mental.
Aprovada no último dia 14 pelo ministério e conselhos estaduais e municipais.
No documento, Arthur Chioro, Agenor Álvares da Silva, Alexandre Padilha, José Gomes Temporão e Humberto Costa.
Que ocuparam o cargo durante os governos dos petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff.
Afirmam que as mudanças representariam um retrocesso para uma política pública reconhecida e premiada internacionalmente.
“Como gestores consideramos absolutamente inaceitável que diante das atuais dificuldades financeiras que comprometem gravemente a gestão dos serviços públicos.
Os gestores estaduais e municipais aceitem dar reajuste a hospitais privados.
E novos aportes a entidades como comunidades terapêuticas em detrimento da rede pública de CAPS e dispositivos comunitários de atenção”, afirma o grupo.
As mudanças foram aprovadas na quinta-feira, 14, por uma comissão que reúne o Ministério da Saúde, representantes de secretários estaduais e municipais de saúde.
A proposta fortalece o atendimento em hospitais psiquiátricos, contrariando a lógica das últimas três décadas.
Que é priorizar a rede de cuidado multidisciplinar e ambulatorial e promover uma redução gradual da internação.
A resolução garante a manutenção dos leitos de hospitais psiquiátricos, amplia os valores pagos para internação nessas instituições.
Além disso, estimula a criação de novas vagas para esses pacientes em hospitais gerais.
A estratégia também prevê uma expressiva expansão do credenciamento de comunidades terapêuticas.
Instituições em sua maioria ligada a grupos religiosos e que prestam serviços para dependentes químicos.
As mudanças foram discutidas nas últimas reuniões da comissão e, de acordo com o coordenador da área de saúde mental do Ministério da Saúde, Quirino Cordeiro.
Visam atender a uma demanda sanitária. Os 18.200 leitos estimados no sistema, disse, não são suficientes.
A pasta não sabe ao certo quantos leitos psiquiátricos existem no Brasil.
O ministro da Saúde, Ricardo Barros, afirma que as mudanças serão boas “para os usuários e para o Brasil”.
Veja a íntegra da carta:
Embalado pelo clima de defesa das liberdades democráticas e de direitos para todos, o Brasil, desde a redemocratização.
Ousou construir uma política pública de cuidados em saúde mental centrada no usuário, compreendido como sujeito de direitos, comprometida com o cuidado em liberdade.
Um vigoroso movimento social desde então tem pautado a Luta Antimanicomial como uma bandeira da sociedade.
Ao longo de três décadas, o Ministério da Saúde sempre esteve aberto à interlocução com os movimentos sociais, implementando uma Política Nacional de Saúde Mental.
Consubstanciada nos ditames da Lei Federal no. 10.216, sancionada em 6 de abril de 2001, que devolveu a cidadania a milhares de brasileiros que foram confinados por anos, décadas ou mesmo toda sua vida em manicômios.
Neste período, o Sistema Único de Saúde (SUS), a partir dos esforços empreendidos pelo Ministério da Saúde em parceria com estados e municípios.
Implementou uma rede aberta de cuidados em saúde mental em todo o país.
A rede de cuidados foi remodelada com a criação de mais de 3 mil serviços que vêm substituindo a lógica do cuidado asilar.
Dentro dos manicômios/hospitais psiquiátricos — pelo cuidado singular e aberto nas redes em cada território.
Uma política pública reconhecida e premiada internacionalmente, citada como referência pela ONU.
Uma política de Estado, que tem sido sustentada por diferentes governos, sob o comandado de distintas forças políticas, que não pode retroceder.
Fazemos um apelo aos atuais gestores do SUS: não permitam o retrocesso.
Como incentivos à internação psiquiátrica ou desorganização do modelo de cuidados construído pela rede de atenção psicossocial.
Como gestores consideramos absolutamente inaceitável que diante das atuais dificuldades financeiras que comprometem gravemente a gestão dos serviços públicos.
Os gestores estaduais e municipais aceitem dar reajuste a hospitais privados, e novos aportes a entidades como comunidades terapêuticas em detrimento da rede pública de CAPS e dispositivos comunitários de atenção.
Sigamos aperfeiçoando e avançando na perspectiva de um cuidado que respeite os direitos humanos e amplie a cidadania dos brasileiros e brasileiras com transtornos mentais!
Assinam os Ministros da Saúde: Arthur Chioro (2014-2015), Alexandre Padilha (2011-2013), José Gomes Temporão (2007-2010), Agenor Alvares (2006-2007) e Humberto Costa (2003-2005).
Fonte: Estadão-18.12.2017.
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