Gestão

Hospitais Privados tem queda na receita pela 1ª vez em dez anos

Por Roberta Massa | 06.01.2016 | Sem comentários

A receita líquida dos 22 maiores hospitais particulares do país caiu 1,8% no ano passado, para R$ 8,3 bilhões, segundo levantamento da Associação Nacional dos Hospitais Privados (Anahp). É a primeira vez, em uma década, que os hospitais registram queda de receita, agravada por um aumento de 8,3% nas despesas.

Esse desempenho ruim no setor hospitalar ocorre porque mais de 450 mil pessoas perderam seus planos de saúde ao serem demitidos de seus empregos no ano passado.

Em 2016, a expectativa continua sendo pessimista por conta do provável aumento do desemprego, da alta do dólar, que eleva os custos dos hospitais. Estes importam cerca de 30% dos medicamentos, materiais e equipamentos. É previsto também negociações mais acirradas com as operadoras e seguradoras de saúde.

Diante deste cenário, os hospitais estão se readequando. O Hospital Sírio ­Libanês, que inaugurou um complexo de prédios em abril do ano passado, no bairro da Bela Vista, no centro de São Paulo, não vai abrir novos leitos em 2015. A previsão inicial do Sírio era ter 656 leitos em operação até dezembro, mas deve encerrar o ano com 451 leitos.

No Hospital Albert Einstein, os investimentos cotados em moeda americana e os contratos com os fornecedores estão sendo revistos e algumas funções podem ser acumuladas, podendo gerar demissões. “Precisamos ter uma visão mais racional do uso da tecnologia na saúde e trabalhar com outros modelos de remuneração.

Um desses modelos é o hospital se responsabilizar com parte do risco do sinistro e trabalhar com medicina preventiva” disse Cláudio Lottemberg, presidente do Hospital Albert Einstein.

No ano passado, o Einstein registrou uma queda no volume de procedimentos de alta complexidade e de ortopedia. Essa redução não foi exclusiva do Einstein. “Em 2008, quando houve a crise econômica mundial, muitas pessoas anteciparam o uso do plano de saúde com receio de perder o benefício.

Já em 2015, houve uma postergação de procedimentos de alta complexidade, que geram maior retorno para os hospitais. Acreditamos que as pessoas preferiram não ficar afastadas do trabalho”, explicou Francisco Balestrin, presidente da Anahp.

O volume de cirurgias aumentou apenas 0,4% no ano passado, sendo que em 2014 o crescimento havia sido de 5,5%. A taxa de ocupação e tempo médio de permanência também caíram, sinalizando uma redução do número de procedimentos complexos.

Ainda de acordo com o levantamento da Anahp,o número de atendimentos em pronto ­socorro caiu 7,2% no ano passado. “É a primeira vez, desde 2004, que há queda no volume de atendimentos em pronto ­socorro”, disse Balestrin. Chama atenção o fato de que esses dados referem ­se a hospitais de ponta como Albert Einstein, Sírio ­Libanês, Samaritano e Rede D’Or, que têm uma estrutura mais profissionalizada. Ou seja, em hospitais menores, o impacto pode ter sido ainda maior.

O desempenho do setor em 2015 contrasta com o cenário de anos anteriores, quando a demanda era forte por conta da entrada da classe C no mercado formal de trabalho. Muitas dessas pessoas nunca tinham tido convênio médico e com isso passaram a usar muito o benefício, o que provocou uma lotação nos hospitais privados, que chegaram a ser comparados com os hospitais da rede pública. Em 2010, os hospitais anunciaram investimentos de mais de R$ 2,5 bilhões para abertura de cerca de 4,3 mil novos leitos até 2016 e atuação em especialidades médicas de alta complexidade.

Ainda assim, essa quantidade de novos leitos era considerada insuficiente para atender a demanda. Um estudo feito pela própria Anahp, em 2013, mostrava que se o número de usuários com convênio médico crescesse 2,1% ao ano, os hospitais precisariam ter até 2016 mais 13,7 mil novos leitos com investimento de R$ 4,3 bilhões. Essas projeções foram baseadas no histórico do setor de planos de saúde que, no período de 2010 a 2013, registrou crescimento entre 2,5% e 3,7% por ano.

A Anahp estima que neste ano seus 80 hospitais associados tenham uma receita bruta de R$ 22 bilhões, uma alta de 2,2%. Mas não se trata de um crescimento orgânico, uma vez que em 2015 havia 77 hospitais associados, ou seja, três a menos.

Fonte: Valor Econômico-06.01.2016

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