Gestão

Em greve, hospital da USP reduz atendimentos

Por Roberta Massa | 02.06.2016 | Sem comentários

Com médicos em greve desde o início da semana, o HU (Hospital Universitário) da USP enfrenta um desmonte nos últimos anos, com demissão de profissionais, fechamento de leitos e o consequente recuo no número de atendimentos à população.

A reivindicação dos médicos em greve não é salarial. Eles exigem contratações para recompor as equipes da unidade, localizada no Butantã, zona oeste da cidade. As consultas ambulatoriais caíram 30%, de 138 mil, em 2013, para 96 mil, em 2015. As urgências recuaram 24%, o que representa 65 mil casos a menos no período. Já nas internações, houve queda de 21% no mesmo período. Procedimentos cirúrgicos, por sua vez, minguaram 25%.

Os dados obtidos pela Folha são do serviço de Estatística do HU. O impacto nos atendimentos é resultado, segundo servidores, do desmonte do hospital. A crise no HU começou em 2014, quando a reitoria aprovou um PDV (Plano de Demissão Voluntária) na universidade. A medida foi uma das tentativas de combate à crise financeira da instituição.

Saíram do hospital desde então 43 médicos. Uma redução de 15% –o HU tem hoje 253 médicos. Além disso, 195 servidores administrativos se desligaram da unidade. Na mesma época, a reitoria propôs transferir o hospital para a Secretaria Estadual de Saúde. Houve resistência dos servidores, e o processo está parado até agora.

Como a USP congelou a partir de 2014 as contratações na universidade, o HU teve de reduzir 21% dos leitos. Foram fechados 49 e o hospital trabalha hoje com 184 leitos. Para o vice-diretor do HU, Gerson Salvador, a reitoria quer “se livrar” do hospital. “A situação é reflexo do desmonte da USP, mas a população é a maior prejudicada”.

Menos atendimento

Nos últimos anos, a redução dos procedimentos é maior em algumas modalidades. Nas urgências de oftalmologia, o HU registrou 11,8 mil atendimentos em 2013, contra 1,2 mil no ano passado. Uma queda de 89%. Os casos urgentes de ginecologia passaram de 11,1 mil para 6,8 mil, um recuo de 39%. As internações nesta especialidade recuaram 37% (passou de 435 para 274).

O atendimento a crianças também teve foi reduzido. As internações na área caíram 17%. Sem pessoal, o HU cancelou o serviço de pediatria à noite em março de 2015. Quem consegue ser atendido enfrenta condições ruins. O pronto-socorro tem 12 macas nos corredores, sem equipamentos de monitoramento, conforme a Folha flagrou. Outras 11 macas (monitoradas) ficam no local.

A mãe da servidora pública Janice da Silva, 50, está desde domingo nessa sala. “Não tem espaço para todo mundo e é sempre muito cheio”, diz. “Eu senti que os médicos têm feito o melhor, mas eles não dão conta.” O HU é o único hospital de referência na região. Segundo o Conselho Gestor de Saúde do Butantã, 600 mil pessoas dependem dele.

“É uma região de vulnerabilidade, com 54 favelas no entorno. São pessoas sem outra opção”, diz Mario de Souza Filho, ligado ao conselho. Mesmo em greve, os atendimentos de casos graves estão mantidos. Parte das atividades dos alunos de Medicina têm sido prejudicadas.

A reitoria não comentou a queda de atendimentos e as condições de atendimento. Ressaltou que, apesar da paralisação, o funcionamento não foi interrompido.

Impasse

As negociações da reitoria com servidores e professores em greve da USP estão interrompidas desde o início desta semana, quando houve a última reunião com o Cruesp (conselho de reitores). O conselho, que envolve também a Unicamp e a Unesp, ainda nem marcou nova reunião.

A situação é de impasse. A USP e as outras duas universidades ofereceram um reajuste salarial de 3%. Os servidores pedem 12,3%, sendo 9,34% de recomposição da inflação e 3% para recuperar perdas. A reitoria já sinalizou que chegou à proposta final. Servidores insistem que a pauta é mais ampla.

Além de serem contra a entrega do Hospital Universitário ao governo, os grevistas pedem contratações para recompor quadros, interrupção de projeto de alteração de carreira docente e ampliação de atendimento de creche, entre outros pontos. “Encerraram as negociações mesmo com uma pauta que não depende só de recursos”, diz Neli Wada, do Sintusp, Sindicato dos Trabalhadores da USP.

Prédios de letras, geografia, história e da ECA (Escola de Comunicação e Artes) estão ocupados. Manifestantes fizeram piquete na administração e impediram o acesso de funcionários. Professores da Unicamp aprovaram greve por tempo indeterminado.

Fonte: Unidas-02.06.2016

Compartilhe!