Saúde

Transplante de coração evoluiu graças ao controle da rejeição

Por Roberta Massa | 04.12.2017 | Sem comentários

Cinquenta anos depois do primeiro transplante cardíaco, alguns avanços se somam. Nem tanto da parte cirúrgica em si, que passou, sim, por pequenos ajustes.

E mais pelo surgimento de drogas que auxiliam no controle da rejeição do órgão pelo organismo que passou a abrigá-lo.

Em 3 de dezembro de 1967, O cirurgião sul-africano Christiaan Barnard foi o primeiro a fazer bater um coração de uma pessoa (que teve morte cerebral).

Dentro do peito de outra, ganhando uma corrida mundial –era questão de tempo até que alguém realizasse o procedimento.

Um mês depois, foi feito o primeiro transplante nos EUA; no Brasil ocorreu o primeiro transplante da América Latina, seis meses depois.

Ao longo do ano de 1968, foram 102 em todo o planeta.

Mas não demorou muito para ficar claro que não se tratava de uma solução mágica.

O primeiro transplantado de Barnard viveu 18 dias; o paciente brasileiro, menos de um mês.

Infecções, em razão do sistema imunológico debilitado, eram um sério problema.

Outro era a rejeição do órgão pelo organismo, que sem drogas agressivas também era letal.

Não à toa os transplantes cardíacos foram minguando nos anos seguintes: passaram para 48 em 1969 e para 16 em 1970. Mais da metade morria em menos de um mês.

Dessa forma, embora tenha surgido no final da década de 1960, foi só no final da década seguinte e no começo dos anos 1980.

Que os transplantes de coração ganharam vida nova, por assim dizer.

O motivo, explica Fernando Bacal, diretor de transplantes do InCor e coordenador dessa mesma área no Hospital Israelita Albert Einstein, foi o surgimento da ciclosporina A.

Um medicamento que conseguia domar o sistema imunológico com algum refinamento.

Lean Six Sigma

Outras descobertas importantes foram as drogas que controlam a proliferação de células de vasos (que obstrui a passagem de sangue, matando o órgão) ou as que combatem o surgimento de tumores

“Tudo isso faz com que o tempo de sobrevida hoje seja cerca de 13 anos, a caminho dos 15”, projeta Bacal.

A retomada dos transplante no Brasil, em meados da década de 1980, contou com a participação de dois cirurgiões da família Jatene, Adib (morto em 2014, aos 85 anos) e Fábio.

Seu filho, hoje professor da titular de cirurgia cardiovascular na USP.

Uma comitiva de jovens médicos foi aos EUA com o objetivo de treinar e começar a explorar o potencial transplantador do Brasil.

“Hoje nosso transplantado mais antigo tem 31 anos. E a cirurgia aconteceu quando ele era adulto. Houve uma evolução constante da área”, diz Jatene.

O número de transplantes cardíacos no país tem crescido e pode superar os 370 no ano de 2017, diz o cirurgião.

Um obstáculo, diz, é que a recusa familiar ainda é alta, acima de 40%.

“Estamos criando uma consciência de que o transplante é uma boa forma de tratar alguns pacientes.

Algumas pessoas se recuperam muito bem, voltando à vida social, familiar, profissional…

Mas não se trata de uma ‘terapia do desespero’, é um tratamento com indicações precisas”, diz Jatene.

Hoje no país cerca de 250 pessoas aguardam na fila por um transplante de coração.

Batendo de novo

Como surgiu e evoluiu o transplante de coração

Primeiro
O primeiro transplante cardíaco em um ser humano foi feito em 3 de dezembro de 1967 pelo cirurgião Christiaan Barnard

Febre
Vários grupos do mundo dominavam a técnica, e, logo após o feito de Barnard, houve uma ‘epidemia’ de transplantes

Problema
Mas o problema era que os resultados não eram favoráveis.

Os pacientes morriam às vezes poucos dias após receberem o novo órgão

Sem transplantes
Na década de 70 houve poucos transplantes.

Faltava uma droga que permitisse controlar a rejeição sem enfraquecer tanto o sistema imunológico

O retorno
No final dos anos 70 surgiu a ciclosporina, droga que permitiu que transplantes cardíacos fossem feitos com mais segurança

Preservação
Depois surgiram outras drogas que evitam a rejeição e previnem a doença vascular do enxerto, que bloqueia as coronárias

Critérios para receber um novo órgão

? Ter o mesmo tipo sanguíneo
Também conhecido como identidade ABO

? Tempo na fila
Espera pode variar de 1 mês a 2 anos, em média, dependo da gravidade

? Gravidade do caso
Por exemplo, mantido vivo com aparelhos ou com medicamentos endovenosos

? Tamanho do órgão
Tem de ser compatível com o organismo do receptor

? Painel imunológico
Exame que detecta possíveis reações que podem provocar rejeição

Procedimento

Doador
Uma equipe de dois ou três médicos coleta o órgão do corpo do doador, após caracterizar a compatibilidade com alguém da fila

Transporte
O órgão idealmente não pode demorar mais que quatro horas para chegar ao novo dono, já que suas células podem morrer no período

Sincronização
Ao mesmo tempo em que é feita a coleta e o transporte, o receptor deve ser preparado para receber o órgão e a cirurgia deve ser iniciada

Implantação
Para implantar o órgão em sua nova morada, são necessários três cirurgiões, dois anestesistas, além de um instrumentador e profissionais cuidando da perfusão

Vida
Uma pessoa que recebeu um novo coração vive hoje, em média, cerca de 13 anos; o prognóstico pode variar de acordo com cada caso.

Fonte: Folha de São Paulo – 04.12.2017.

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