Gestão

Conheça algumas estratégias para melhorar a gestão da saúde no Brasil

Por Redação GeHosp | 25.10.2021 | Sem comentários

Nunca se investiu tanto no desenvolvimento de medicamentos e tratamentos. Seja para melhorar o combate a doenças bem conhecidas, muitas delas crônicas, seja para atacar problemas raros, a indústria tem criado soluções inovadoras, que transformaram o tratamento de doenças de grande impacto para a sociedade.

Mas a inovação precisa chegar às mãos dos pacientes. À medida que o leque de opções aumenta, a gestão da saúde, especialmente a pública, precisa se modernizar.

Como melhorar o acesso e garantir que as pessoas recebam o tratamento mais avançado para seus problemas de saúde?

Foi para debater essas questões que o jornal Valor Econômico realizou, o Fórum Acesso à Saúde.

evento reuniu oito especialistas em gestão de saúde, que se dedicaram a apontar dificuldades do setor – mas, mais do que isso, debateram soluções.

Estudo inédito

O fórum contou com o apoio da Pfizer Brasil, que, ao longo dos últimos 12 meses, se debruçou sobre a questão da gestão e do financiamento da saúde pública brasileira.

O resultado, produzido em parceria com a IQVIA Consulting Services, é o estudo Perspectivas e Oportunidades para a Evolução do Acesso Público à Saúde no Brasil.

O trabalho – que mapeia o processo de incorporação de medicamentos no País pelo Sistema Único de Saúde (SUS) – concluiu, por exemplo, que eles demoram de 300 a 360 dias para chegar aos pacientes da rede pública, depois que a incorporação é aprovada pelo Ministério da Saúde.

Com base nessas informações, o estudo aponta desafios apresentados pelo processo decisório atual, como a pouca participação de representantes dos pacientes, a reavaliação de preços após a tecnologia ser recomendada e a falta de integração entre recomendação, decisão e as instâncias de pactuação do SUS.

Por fim, aponta também estratégias para alcançar a melhoria do sistema, como a busca por maior transparência nos critérios usados nas recomendações, a maior participação das sociedades médicas e de pacientes, e priorização das avaliações de tecnologia no campo das doenças raras, da oncologia e das terapias avançadas.

Mais recursos

Para levar adiante esse debate, o Fórum Acesso à Saúde se dividiu em dois painéis. O primeiro deles, Panorama do sistema público de saúde e suas perspectivas, tratou de financiamento do sistema público, subsídios, modelos de gestão, saúde como direito do cidadão e melhorias do ambiente de acesso à saúde. A mediação ficou a cargo de Fernando Exman, chefe de Reportagem do Valor Econômico, em Brasília.

“Temos que avançar na reforma do estado, trazer mais flexibilidade para a gestão”, cobrou Denizar Vianna, professor da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro.

“Temos que discutir que legado a gente quer. Queremos mais leitos de UTI por habitante, por exemplo, e para isso precisamos encarar a questão da governança do sistema de saúde”, reforçou Ana Maria Malik, coordenadora do FGV Saúde.

Para Maria Del Pilar Estevez Diz, diretora do corpo clínico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo, “o financiamento de novas medicações e tratamentos é uma questão crucial, e que passa por regulações diferentes para o setor público e o privado”.

Já Carlos Ocké-Reis, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, Ipea, lembrou que a melhoria na gestão precisa ser acompanhada de mais dinheiro: “Se você tem um sistema integral, universal, precisa ter recurso.

Mas o Brasil investe 3,8% do PIB em saúde pública, contra 7,9% da Inglaterra, 8,4% dos Estados Unidos e 9,4% da Alemanha. É preciso investir mais, com mais eficiência, tanto em tecnologia e estrutura quanto em capital humano”.

Entraves burocráticos

O painel 2, Acesso a medicamentos, foi mediado por Eduardo Belo, editor-assistente do jornal Valor Econômico, em São Paulo, e abordou SUS, farmácia popular, genéricos, vacinas, medicamentos de alto custo e oportunidades de oferecimento de novas tecnologias.

“Vemos um avanço importante no combate ao câncer, um avanço muito esperado”, lembrou Luciana Holtz, presidente do Instituto Oncoguia, “mas é angustiante a gente não ver esse avanço todo chegando para quem mais precisa”.

Como apontou Carlos Lula, secretário de Saúde no Maranhão e presidente do Conselho Nacional de Secretários de Saúde, o perfil dos usuários do sistema de saúde está mudando rapidamente. “Cada vez mais vamos tratar de doenças crônicas, que demandam um outro tipo de investimento e acompanhamento.” Ainda assim, diz ele, a compra de insumos e medicamentos permanece prejudicada pela burocracia. “Faltam recursos, sim, mas também regras mais transparentes.”

A procuradora do Ministério Público de Contas de São Paulo Élida Graziane Pinto lembrou que, em consequência desses entraves, muitos estados e municípios são processados por pacientes que demandam acesso a medicamentos, quando “essa é uma obrigação da União, que não vem cumprindo essa missão a contento”.

Antoine Daher, presidente da Federação Brasileira das Associações de Doenças Raras (Febrararas), finalizou pedindo um esforço conjunto. “Precisamos de um novo desenho de gestão, em que os setores interessados atuem para alcançar um sistema em que todos tenham os diagnósticos e tratamentos de que precisam.”

Fonte: Valor economico – 25.10.2021

Compartilhe!