Projeto leva teleconsulta de medicina para moradores isolados no Pará
Por Redação GeHosp | 18.10.2021 | Sem comentáriosMoradora de Melgaço, na Ilha de Marajó (Pará), a professora de educação infantil Silvandira Silva, 52, teve em 2021 pela primeira vez na vida uma consulta com um ginecologista. O atendimento, feito de maneira remota, permitiu que ela conseguisse agendar um exame preventivo e uma mamografia.
Melgaço, com o menor IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do Brasil, é um dos sete municípios do Marajó, o maior arquipélago fluvial do mundo, contemplado com um projeto de salas de teleatendimento com médicos de 12 especialidades.
A região tem um dos piores atendimentos de saúde do país, com apenas um ginecologista para atender todo o arquipélago. Por isso, a situação melhorou com as novas salas de teleatendimento, que viabilizaram consultas a cerca de 2.000 pacientes, a maioria mulheres.
O projeto é fruto de uma parceria da ONU (Organização das Nações Unidas) com o Cosems/PA, conselho que reúne secretários de saúde, com verbas públicas.
“Aqui é tudo muito distante e isso vai desmotivando a gente. Por isso, eu nunca tinha ido ao ginecologista e nem feito os exames”, conta Silvandira.
Sem o projeto, ela teria que viajar 15 horas até Belém para conseguir uma consulta presencial. “O atendimento foi ótimo. Agora vou retornar pra saber se está tudo bem. A telemedicina facilitou muito pra gente”.
As salas são equipadas com computadores ligados à internet e os pacientes passam por uma triagem feita por profissionais de saúde locais, que também cuidam dos agendamentos.
Do outro lado do computador, estão 12 médicos de diversas especialidades que atendem diretamente de Belém, como cardiologia, neurologia e psiquiatria.
O projeto “Saúde das Manas” instala não só os computadores do teleatendimento, mas também ajuda a equipar as cidades fluviais com bicicletas, meio de transporte comuns no local, que são adaptadas até como ambulâncias.
O Cosems/PA contrata e paga os médicos, além de garantir a internet banda larga para realizar as teleconsultas.
Já as prefeituras dos municípios fornecem a estrutura física das salas de telemedicina e a manutenção técnica necessária.
“O projeto quer ampliar o acesso a serviços de saúde sexual e preventiva para todas as mulheres da região do Marajó, que tem um dos menores IDH do Brasil”, diz Astrid Bant, representante do Fundo de População da ONU.
“Ações assim ajudam a garantir direitos e planejamento reprodutivo, principalmente em contextos de maior vulnerabilidade”.
Além de Melgaço, o “Saúde das Manas” já chegou também aos municípios de Afuá, Soure, Salvaterra, Breves, Bagre e Anajás. O foco é no atendimento à saúde sexual e reprodutiva feminina, mas toda a população poderá ser beneficiada.
“Dos municípios do Marajó, somente Breves conta com um médico ginecologista. Esse é um problema gravíssimo para as mulheres da região. A telemedicina é uma alternativa para oferecer serviço assistencial especializado”, afirma Charles Tocantins, presidente do Cosems/PA.
Dados do INCA (Instituto Nacional do Câncer) revelam que o câncer de colo do útero ocupa o primeiro lugar na região Norte.
“Na região amazônica, o acesso às unidades de saúde é bem complexo, com muitas cidades e povoados ribeirinhos se deslocando somente pelos rios. As soluções em cada lugar precisam ser customizadas.
Sem diagnóstico, não tem tratamento”, diz a médica Liz Almeida, Coordenadora de Prevenção e Vigilância do INCA.
Em nota, o governo do Pará diz que “realiza uma série de ações de saúde itinerante no Marajó e busca conhecer melhor a realidade e a necessidade de serviços de cada município para então adotar medidas que possam melhorar a estruturação de assistência na região”. O governo não detalhou quais medidas seriam essas.
Já o Fundo de População da ONU está investindo cerca de US$ 300 mil dólares (cerca de R$ 1,6 milhão) no projeto realizado em Marajó.
Além da telemedicina, foram doados kits dignidade (contendo produtos de higiene pessoal), camisinhas, contraceptivos injetáveis, pílulas de emergência, tablets para apoiar o trabalho nas Unidades Básicas de Saúde e ainda bicicletas para facilitar a locomoção de agentes comunitários.
Fonte: Folha de São Paulo – 18.10.2021.