Opinião

Saúde Baseada em valor, estamos preparados para essa mudança?

Por Roberta Massa | 11.10.2024 | Sem comentários

Quando falamos em modelos de remuneração em saúde (modelo VBHC) temos pela convicção o quanto é importante evoluirmos para que seja estimulado a eficiência operacional propiciando maior sustentabilidade econômica na cadeia da saúde.

De um lado da balança temos os recursos cada vez mais escassos, do outro lado pesa o envelhecimento da população, o aumento da expectativa de vida e a necessidade de investir em inovação com a incorporação de novas tecnologias, sendo impossível manter o equilíbrio do modelo atual.

Além do grande desiquilíbrio dessa balança, a gestão estratégica e a governança da saúde carecem de uma prestação de serviço de qualidade, eficiência e eficácia, pois a mão de obra nem sempre é qualificada e não está preparada para lidar com os desafios.

Existe uma grande necessidade de aumentarmos a maturidade da gestão em saúde, para fazer frente aos diversos gargalos e desperdícios, os quais são vistos principalmente em:

  • Serviços sendo realizados desnecessariamente;
  • Ausência de controle e monitoramento dos altos custos administrativos;
  • Ausência de sistematização e integração de informações;
  • Atuação corretiva e não preventiva nas ações, além das fraudes e desvios.

Em meus 25 anos de atuação na área da saúde, esses tópicos nunca deixaram de ser abordados.

O famoso modelão de remuneração “fee-for-service”, definido como pagamento por serviço, ainda segue a todo vapor em grande parte mercado.

Durante e após o período pandêmico os problemas ganharam magnitude com a potencialização da crise financeira, das fusões e das aquisições que acontecem a todo momento.

Essa discussão acabou ganhando força dentro dos congressos, simpósios, fóruns e feiras, nacionais e internacionais na saúde pública, privada e na saúde suplementar.

Nesses eventos sempre é destacado o modelo VBHC, mas sua implementação na prática ainda é pouco vista.

Dito isto, é preciso abandonar o velho modelo oferta x produção, para um modelo de sistema centrado na pessoa e organizado especificamente na necessidade dos pacientes.

O conceito de valor em sistema de saúde foca na ciência da melhoria, através da utilização de ferramentas como o Lean Six Sigma e a Medicina Baseada em Evidências.

Tal junção de ferramentas propicia a qualidade, a eficácia e a segurança nos desfechos clínicos, gerando valor ao paciente, a assistência e consequentemente a redução de custos.

Modelo Saúde Baseada em Valor – VBHC

O modelo de remuneração VBHC destaca a importância da integração e a coordenação dos serviços de saúde de forma longitudinal, desde o cuidado primário, passando por atendimento especializado e a hospitalização entre outros.

O paciente sendo visto como o centro do cuidado em suas necessidades e preferências consideradas prioritários, coloca a satisfação do paciente e a qualidade de vida como indicadores primordiais do modelo, além de potencializar os resultados da empresa.

Neste contexto os dados, o acesso à informação e a tecnologia são cruciais para a realização de análises que mensurem os resultados e permita a identificação de melhorias e a tomada de decisão.

O VBHC incentiva a cultura de melhoria contínua nas instituições, motiva a implementação de diretrizes baseadas em evidências, através do monitoramento de indicadores e ações que amplifique os resultados e reduza os custos.

Quando avaliamos o cenário da saúde pública e o quanto ele interfere nessa cadeia de valor, principalmente quando correlacionamos as crises econômicas, a pandemia, as políticas públicas transversais e a pungente necessidade de

acesso à informação e a integração de dados.

A transformação digital da saúde”, e o “prontuário eletrônico do SUS”, considerados os termos do momento, quando avaliamos na prática, sabemos que esses termos não são tão atuais assim, pois são discutidos a anos e ganharam celeridade durante a pandemia.

O fato é que quando falamos em transformação digital e prontuários eletrônico, falamos também da necessidade de uma mudança efetiva no modelo de remuneração.

A pergunta que vale 1 milhão de reais. O quanto o mercado da saúde está disposto e maduro para implementação dessas mudanças?

Toda ação gera uma reação, de que forma essas mudanças afetariam outras cadeias de serviço que dependem exclusivamente do modelo atual?

Quais seriam os impactos dessas mudanças juntos aos demais stakeholders dessa grande engrenagem?

Será que estamos realmente preparadas e dispostos para implementar essas importantes mudanças?

Será que continuaremos permanecendo dentro da matrix da cadeia de gestão em saúde?

Essas são apenas algumas provocações de uma pessoa que vive e admira a cadeia da saúde, mas que diariamente luta para tenta sair dessa matrix tomando a pílula vermelha.

Vale a reflexão. Até a próxima – Roberta Massa.

Compartilhe!